Projeto era para ser pago em dois meses mas ainda não chegou
Empresa de casas infantis reconverteu a produção para produzir bens necessários ao combate à pandemia
TESTEMUNHO A empresária Susana Silva está a viver um “pesadelo kafkiano” desde que, em 2020, aceitou o desafio lançado pelo Governo e reconverteu a produção e ampliou as instalações para produzir equipamentos de combate à pandemia. O projeto foi executado em dois mses, como previsto, mas o pagamento, que deveria ter sido feito em 60 dias, está atrasado mais de 18 meses. A empresa não consegue cumprir com os compromissos assumidos, está a perder encomendas avultadas para exportação e corre o risco de ficar insolvente.
“É surreal”, resume a empresária, que teve há dias uma manifestação de trabalhadores à porta da empresa devido a salários em atraso. “Hipotequei duas casas, meti tudo o que tinha na empresa, mas, se não me pagarem rapidamente, não sei o que vou fazer”, contou. Susana Silva reconhece que os trabalhadores têm motivo para protestar, porém considera que o responsável pela falta de liquidez da empresa é o próprio Estado.
O projeto da Nevermind Indústria nasceu, em 2020, durante os meses do confinamento. A empresa de eventos da licenciada em marketing reinventou-se. Nasceram as casinhas e os parques infantis de madeira com pormenores acabados à mão que já encantaram clientes alemães.
“Queriam encomendar-me 1500 casinhas, mas não tenho como comprar a madeira para fazê-las”, contou, agora, Susana Silva.
VIABILIDADE EM CAUSA
Os projetos da Love in a Box mostraram-se promissores desde o início. Por isso, o apoio lançado pelo Governo para a reconversão e produção de equipamentos para combate à pandemia podia ajudar a ampliar o projeto industrial. O investimento total atingia 1,5 milhões de euros, mas a primeira fase foi de apenas 573 mil euros, comparticipados pelo FEDER em 372,6 mil euros.
A linha de produção de viseiras, óculos de proteção, telas e divisórias foi instalada. Mas o pagamento tarda em chegar.
“Mando emails que não obtêm resposta ou cuja resposta demora seis meses a chegar. Chegaram a justificar-se, dizendo que tinham 440 projetos para analisar. Entretanto, pediram documentos que já entreguei, fotografias que já têm. Enfim, estou convencida de que são expedientes para continuar a adiar o pagamento”, relatou a empresária, cansada das burocracias de algo que julgava ser simples.
“O projeto era para ser feito em dois meses e pago em dois meses, não era para estar este tempo todo a empenhar tudo o que tenho na empresa para aguentar até vir o pagamento de algo que já entreguei”, lamentou Susana Silva.
O JN questionou o Ministério da Economia sobre o motivo do atraso do processo relativo ao projeto da Nevermind, porém os responsáveis não responderam às questões a tempo do fecho desta edição.