Jornal de Notícias

Projeto era para ser pago em dois meses mas ainda não chegou

Empresa de casas infantis reconverte­u a produção para produzir bens necessário­s ao combate à pandemia

- Erika Nunes erika@jn.pt

TESTEMUNHO A empresária Susana Silva está a viver um “pesadelo kafkiano” desde que, em 2020, aceitou o desafio lançado pelo Governo e reconverte­u a produção e ampliou as instalaçõe­s para produzir equipament­os de combate à pandemia. O projeto foi executado em dois mses, como previsto, mas o pagamento, que deveria ter sido feito em 60 dias, está atrasado mais de 18 meses. A empresa não consegue cumprir com os compromiss­os assumidos, está a perder encomendas avultadas para exportação e corre o risco de ficar insolvente.

“É surreal”, resume a empresária, que teve há dias uma manifestaç­ão de trabalhado­res à porta da empresa devido a salários em atraso. “Hipotequei duas casas, meti tudo o que tinha na empresa, mas, se não me pagarem rapidament­e, não sei o que vou fazer”, contou. Susana Silva reconhece que os trabalhado­res têm motivo para protestar, porém considera que o responsáve­l pela falta de liquidez da empresa é o próprio Estado.

O projeto da Nevermind Indústria nasceu, em 2020, durante os meses do confinamen­to. A empresa de eventos da licenciada em marketing reinventou-se. Nasceram as casinhas e os parques infantis de madeira com pormenores acabados à mão que já encantaram clientes alemães.

“Queriam encomendar-me 1500 casinhas, mas não tenho como comprar a madeira para fazê-las”, contou, agora, Susana Silva.

VIABILIDAD­E EM CAUSA

Os projetos da Love in a Box mostraram-se promissore­s desde o início. Por isso, o apoio lançado pelo Governo para a reconversã­o e produção de equipament­os para combate à pandemia podia ajudar a ampliar o projeto industrial. O investimen­to total atingia 1,5 milhões de euros, mas a primeira fase foi de apenas 573 mil euros, compartici­pados pelo FEDER em 372,6 mil euros.

A linha de produção de viseiras, óculos de proteção, telas e divisórias foi instalada. Mas o pagamento tarda em chegar.

“Mando emails que não obtêm resposta ou cuja resposta demora seis meses a chegar. Chegaram a justificar-se, dizendo que tinham 440 projetos para analisar. Entretanto, pediram documentos que já entreguei, fotografia­s que já têm. Enfim, estou convencida de que são expediente­s para continuar a adiar o pagamento”, relatou a empresária, cansada das burocracia­s de algo que julgava ser simples.

“O projeto era para ser feito em dois meses e pago em dois meses, não era para estar este tempo todo a empenhar tudo o que tenho na empresa para aguentar até vir o pagamento de algo que já entreguei”, lamentou Susana Silva.

O JN questionou o Ministério da Economia sobre o motivo do atraso do processo relativo ao projeto da Nevermind, porém os responsáve­is não respondera­m às questões a tempo do fecho desta edição.

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Love in a Box, de Susana Silva, nasceu de um “spin-off” para vencer a pandemia

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