Territórios ardidos recuperados a diferentes velocidades
Projetos de proteção desenvolvidos nos três concelhos mais afetados pelos incêndios de Pedrógão colocam Figueiró na frente e Castanheira na cauda
PREVENÇÃO Cinco anos depois de os incêndios de Pedrógão Grande, que causaram a morte a 66 pessoas e 44 feridos, os três concelhos mais atingidos reagiram a velocidades diferentes. Figueiró dos Vinhos está numa fase mais adiantada na execução de projetos destinados a proteger o território, enquanto os novos autarcas de Pedrógão e de Castanheira de Pera estão a “recuperar o tempo perdido”.
A Câmara de Figueiró dos Vinhos apresentou oito candidaturas ao projeto piloto condomínios de aldeias, para proteger 20 aglomerados populacionais, localizados em zona de floresta, através de “ações de gestão, ordenamento e reconversão florestal”, com o objetivo de promover a defesa contra incêndios rurais e de proteger pessoas e bens.
Comparticipadas a 100% pelo Fundo Ambiental e pelo PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, as intervenções incluem a limpeza de matos, corte de eucaliptos, destruição de cepos, preparação do terreno e controlo de vegetação espontânea, e a plantação de castanheiros, oliveiras e medronheiros.
“Os eucaliptos são barris de pólvora. Estamos a pegar nessas áreas integradas de gestão da paisagem e a fazer a reconversão para espécies autóctones”, explica fonte do município de Figueiró dos Vinhos, dando o exemplo do Cercal.
ALDEIAS SEGURAS
António José Lopes ocupou o lugar de presidente da Autarquia de Pedrógão Grande em outubro e, desde então, já apresentou candidatura para criar condomínios em três aldeias. “É um projeto interessante, com alteração do uso de solo de floresta para agroflorestal, para cortar o impacto do fogo”, explica.
Outra medida que está a pôr em prática é a criação de aldeias seguras. A primeira será a de Picha, onde decorrerá o primeiro simulacro de incêndio na terça-feira. A ideia é replicar este projeto piloto noutros aglomerados rurais. O autarca de Pedrógão Grande revela ainda ao JN que vão criar abrigos, onde as pessoas se possam refugiar, e caminhos de evacuação, em caso de incêndio. “Estão a ser definidos mais pontos de água, porque a albufeira do Cabril, que costuma ser usada pelos Canadairs, está com a cota muito baixa, pelo que só poderá ser utilizada por aviões mais pequenos”, justifica.
SEM TEMPO A PERDER
Em funções como presidente da Câmara de Castanheira
de Pera igualmente desde outubro, António Antunes lamenta que só agora é que o município tenha apresentado candidaturas ao programa condomínios de aldeias, para seis aglomerados populacionais, e às áreas integradas de proteção da paisagem. “Estou a reprogramar o avião no ar. Não posso parar, para não perder mais tempo”, observa António Antunes.
Confiante que estas medidas irão contribuir para proteger os aglomerados populacionais, contrariar o desinvestimento na floresta e travar a diminuição da população, o autarca de Castanheira de Pera defende a necessidade de criar mais zonas agrícolas, através de investimento público.
“As gerações mais novas não sabem que propriedades têm, nem querem saber, o que levou ao abandono das terras”, afirma. “É preciso criar medidas excecionais para fixarmos pessoas e empresas no nosso território.”