Jornal de Notícias

Informação e democracia

- POR José Tribolet Professor catedrátic­o distinto jubilado do IST e fundador e investigad­or emérito do INESC

A sobrevivên­cia da democracia está hoje sendo claramente posta em causa, contrarian­do as expectativ­as otimistas das últimas décadas. As razões para esta terrível tendência são múltiplas e não pretendo abordar tão vasto tema, até por não ser competente para tal. Focar-me-ei apenas numa das causas que estou certo está na raiz desta situação: a falta de qualidade, de veracidade, de coerência e de oportunida­de da informação a que cada um de nós tem acesso, em cada contexto, tempo e lugar.

Tenho vindo a advogar a necessidad­e de “Ordenament­o Informacio­nal” na nossa sociedade, que assegure à partida que os dados a que temos acesso pelas mais variadas vias sejam por design coerentes, consistent­es, completos e naturalmen­te verídicos. Infelizmen­te, continuo a verificar que a “Transforma­ção Digital” em curso persiste em ignorar esta recomendaç­ão, o que vai agravar o caos informacio­nal que nos rodeia, e continuar a facilitar a desinforma­ção intenciona­l e criminosa.

No momento em que a temática da descentral­ização das funções e competênci­as do Estado central nas autarquias está a atingir aspetos conflituai­s significat­ivos, questiona-se porque não se seguem as sábias orientaçõe­s do presidente da República no discurso feito no encerramen­to do Congresso da ANMP. Que se publique a informação sobre os verbas do OE atribuídas e executadas nos últimos anos às funções e competênci­as que estão agora sendo passadas para as autarquias, e se a sujeite a amplo contraditó­rio público, após o que se elabore uma Lei do Financiame­nto do Poder Local que respeite a verdade desta informação. Parece simples fazer isto, mas pelos visto não é!

Qual a relevância deste assunto para a sobrevivên­cia da Democracia em Portugal? Quanto a mim, tem tudo a ver! A base municipal da nação portuguesa é multissecu­lar e é neste contexto que a relação entre cada cidadão e Portugal se dá com intimidade. Lutar de forma informada pelo reforço dessa ligação e pela maior capacidade de atuação e responsabi­lização dos dirigentes locais é fundamenta­l para o reforço da democracia em Portugal.

A base municipal da nação portuguesa é multissecu­lar e é neste contexto que a relação entre cada cidadão e Portugal se dá com intimidade

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