Não matem a galinha
O que podia correr bem está a correr muito bem e o que podia correr mal está a correr muito mal. Comecemos pelas boas notícias: o mercado do turismo pós-pandemia comprovou o que se esperava e a tremenda fome de viajar de todos quantos ficaram dois anos agrilhoados a uma doença também está a beneficiar Portugal, a tal ponto que as viagens e as dormidas nos primeiros quatro meses do ano já nos colocam praticamente ao nível de 2019. Mas depois os turistas chegam ao Aeroporto de Lisboa e estão três horas para cumprir burocracias, em condições degradantes que projetam a pior imagem possível de um país que quer atrair visitantes e gerar valor económico.
Ora, não foi certamente por falta de aviso que as infraestruturas não se adaptaram à nova realidade, mas a verdade é que temos um problema estrutural em mãos chamado desadequação da oferta à procura, o qual se prevê vai intensificar-se até setembro. Desde logo nos recursos humanos, que foram redimensionados no contexto pandémico, e não sofreram um necessário reajuste em alta, mas também na forma atabalhoada como a extinção do SEF (agora em aparente banho-maria) está a ser operada, obrigando a estratégias de improviso. A isto acresce a propalada saturação do Aeroporto de Lisboa, que recebeu cerca de metade destes novos visitantes. Todos estamos recordados de como o turismo enchia a boca dos governantes e dos agentes económicos. Era a galinha dos ovos de ouro da economia, que importava preservar a todo o custo. Nesse tempo, Portugal acumulou prémios e alcançou resultados e receitas extraordinárias. Se no que se refere à contratação de mão de obra qualificada para o setor essa recuperação será bastante mais morosa, há outros domínios em que o país não pode falhar. Desde logo nas condições em que recebe os turistas. É que não estamos sozinhos nesta “guerra” pela angariação de investimento (basta ver o que valem e fazem Espanha, Itália, França e Grécia, por exemplo). Se o Aeroporto de Lisboa está saturado, ainda vamos a tempo de montar uma estratégia que ajude a compensar essa debilidade. Olhando, por exemplo, para o Aeroporto do Porto, que está abaixo da sua capacidade, como uma alternativa viável que funcione como válvula de escape ao “Humberto Delgado”. Não tratemos é mal quem nos visita. Porque esses muito dificilmente voltarão.