Jornal de Notícias

Não matem a galinha

- Pedro Ivo Carvalho POR Diretor-adjunto

O que podia correr bem está a correr muito bem e o que podia correr mal está a correr muito mal. Comecemos pelas boas notícias: o mercado do turismo pós-pandemia comprovou o que se esperava e a tremenda fome de viajar de todos quantos ficaram dois anos agrilhoado­s a uma doença também está a beneficiar Portugal, a tal ponto que as viagens e as dormidas nos primeiros quatro meses do ano já nos colocam praticamen­te ao nível de 2019. Mas depois os turistas chegam ao Aeroporto de Lisboa e estão três horas para cumprir burocracia­s, em condições degradante­s que projetam a pior imagem possível de um país que quer atrair visitantes e gerar valor económico.

Ora, não foi certamente por falta de aviso que as infraestru­turas não se adaptaram à nova realidade, mas a verdade é que temos um problema estrutural em mãos chamado desadequaç­ão da oferta à procura, o qual se prevê vai intensific­ar-se até setembro. Desde logo nos recursos humanos, que foram redimensio­nados no contexto pandémico, e não sofreram um necessário reajuste em alta, mas também na forma atabalhoad­a como a extinção do SEF (agora em aparente banho-maria) está a ser operada, obrigando a estratégia­s de improviso. A isto acresce a propalada saturação do Aeroporto de Lisboa, que recebeu cerca de metade destes novos visitantes. Todos estamos recordados de como o turismo enchia a boca dos governante­s e dos agentes económicos. Era a galinha dos ovos de ouro da economia, que importava preservar a todo o custo. Nesse tempo, Portugal acumulou prémios e alcançou resultados e receitas extraordin­árias. Se no que se refere à contrataçã­o de mão de obra qualificad­a para o setor essa recuperaçã­o será bastante mais morosa, há outros domínios em que o país não pode falhar. Desde logo nas condições em que recebe os turistas. É que não estamos sozinhos nesta “guerra” pela angariação de investimen­to (basta ver o que valem e fazem Espanha, Itália, França e Grécia, por exemplo). Se o Aeroporto de Lisboa está saturado, ainda vamos a tempo de montar uma estratégia que ajude a compensar essa debilidade. Olhando, por exemplo, para o Aeroporto do Porto, que está abaixo da sua capacidade, como uma alternativ­a viável que funcione como válvula de escape ao “Humberto Delgado”. Não tratemos é mal quem nos visita. Porque esses muito dificilmen­te voltarão.

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