Três romances
Desde o século XVIII, o Porto cultiva a literatura e contam-se por dezenas os autores que invocaram a cidade ou se serviram dela para os seus enredos. No romance, poesia, memorialismo, teatro, crónica, novela, a Invicta surge em milhares de episódios da arte da escrita. Dos grandes vultos aos menos conhecidos, são infindáveis os nomes deste património. Contrariando a morte do livro, o séc. XXI viu surgir autores que continuaram a tradição do romance oitocentista ou vieram trazer uma visão sensível às mudanças da realidade urbana. Destacaria três obras essenciais à compreensão da cidade actual: “Uma vida assim-assim”, de Cláudia Araújo Teixeira, retrato do quotidiano de um bairro camarário, através do percurso de uma jovem que procura a ascensão social. A expressão das palavras e o desenho dos personagens são admiráveis, num Porto profundo, na sua humanidade contraditória e violenta. No romance “Madalena”, Isabel Rio Novo, escritora de créditos firmados, conta-nos a tragédia pessoal de uma jovem lutando contra o cancro e descobrindo, em simultâneo, pormenores escondidos da sua própria família. O resultado deste cruzamento de tempos é-nos descrito magistralmente. Em “Três mulheres no beiral”, de Susana Piedade, surge, na história de uma família tradicional da (adivinha-se) Rua das Flores, a denúncia rigorosa de senhorios e investidores sem escrúpulos, que procuram expulsar moradores e comerciantes para usufruírem da valorização especulativa de zonas cobiçadas. Eis o Porto no melhor da sua tradição literária, na escrita de três mulheres brilhantes que prestigiam a cidade.