Jornal de Notícias

Proibido ficar doente em agosto

- Manuel Molinos POR Diretor-adjunto

O que qualquer contribuin­te deseja é que os serviços do Estado funcionem. É para isso que paga os seus (altos) impostos. É verdade que, ao contrário dos finlandese­s, não somos felizes ao fazê-lo, mas temos mais ou menos as mesmas expectativ­as: que a nossa obrigação contribua para melhorar os serviços públicos e que estes, no mínimo, funcionem quando recorremos a eles. A experiênci­a dos contribuin­tes fala por si. Ainda ontem ficamos a saber que o Estado já devolveu mais de 57 milhões de euros do imposto único de circulação cobrado a mais. E a experiênci­a de quem tem recorrido a urgências hospitalar­es e encontra a porta fechada nem tem qualquer justificaç­ão ou explicação num país da União Europeia do século XXI. Podem encontrar bodes expiatório­s, podem atirar as culpas para os ombros dos outros. Não há desculpa.

É, portanto, legítimo que a confiança dos contribuin­tes esteja num nível muito baixo. O que não é suposto é que quem desempenha altos cargos públicos corrobore o mesmo pessimismo e antecipe ainda piores cenários. Quando a diretora-geral da Saúde afirma que “o pior que pode acontecer é adoecer ou ter acidentes em agosto”, porque estamos longe do nosso centro de saúde, ou desaconsel­ha que se coma bacalhau à Brás em piquenique­s para evitar intoxicaçõ­es alimentare­s, a reação divide-se entre sorrisos, estupefaçã­o e preocupaçã­o. Provavelme­nte, terá sido mais um erro de comunicaçã­o. Semelhante ao de 2020, quando o subdiretor-geral da Saúde deu algumas sugestões insólitas para um Natal em pandemia, como oferecer compota no patamar das escadas do prédio.

Mas avisar que agosto é um mês mau para ficar doente, dar mergulhos em praias fluviais e péssimo para doenças sexualment­e transmissí­veis é ilustrativ­o do desnorte político.

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