Proibido ficar doente em agosto
O que qualquer contribuinte deseja é que os serviços do Estado funcionem. É para isso que paga os seus (altos) impostos. É verdade que, ao contrário dos finlandeses, não somos felizes ao fazê-lo, mas temos mais ou menos as mesmas expectativas: que a nossa obrigação contribua para melhorar os serviços públicos e que estes, no mínimo, funcionem quando recorremos a eles. A experiência dos contribuintes fala por si. Ainda ontem ficamos a saber que o Estado já devolveu mais de 57 milhões de euros do imposto único de circulação cobrado a mais. E a experiência de quem tem recorrido a urgências hospitalares e encontra a porta fechada nem tem qualquer justificação ou explicação num país da União Europeia do século XXI. Podem encontrar bodes expiatórios, podem atirar as culpas para os ombros dos outros. Não há desculpa.
É, portanto, legítimo que a confiança dos contribuintes esteja num nível muito baixo. O que não é suposto é que quem desempenha altos cargos públicos corrobore o mesmo pessimismo e antecipe ainda piores cenários. Quando a diretora-geral da Saúde afirma que “o pior que pode acontecer é adoecer ou ter acidentes em agosto”, porque estamos longe do nosso centro de saúde, ou desaconselha que se coma bacalhau à Brás em piqueniques para evitar intoxicações alimentares, a reação divide-se entre sorrisos, estupefação e preocupação. Provavelmente, terá sido mais um erro de comunicação. Semelhante ao de 2020, quando o subdiretor-geral da Saúde deu algumas sugestões insólitas para um Natal em pandemia, como oferecer compota no patamar das escadas do prédio.
Mas avisar que agosto é um mês mau para ficar doente, dar mergulhos em praias fluviais e péssimo para doenças sexualmente transmissíveis é ilustrativo do desnorte político.