Brasileiros são quase um terço do total de imigrantes
Índia surge, pela primeira vez, entre as cinco nacionalidades que mais procuram Portugal, à frente dos franceses e logo atrás dos italianos. Segurança e vantagens fiscais são atrativos
RELATÓRIO No ano passado, havia 204 694 brasileiros a residir em Portugal, são quase um terço do total de estrangeiros, revela Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo (RIFA) do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) divulgado ontem. Esta continua a ser a principal comunidade estrangeira a procurar o nosso país para viver, seguida do Reino Unido. A Índia surge, pela primeira vez, entre as cinco nacionalidades que mais imigraram para Portugal.
O Brasil continua a ser o país mais representativo, ao corresponder a 29,3% dos imigrantes a residir em Portugal. Contudo, enquanto a procura continuou a aumentar (11,3%) em relação ao ano anterior, o mesmo não sucedeu com os cidadãos do Reino Unido e de Cabo Verde que mais procuravam o nosso país, ao verificar-se uma quebra de 9,3% e de 6,9%, respetivamente.
Em contrapartida, a Itália mantém-se como a quarta nacionalidade que mais imigra para Portugal, com um reforço de 2,6%, em relação a 2020, e a Índia destaca-se ao registar um crescimento de 5,7%, que lhe permitiu ultrapassar França, China, Ucrânia e Roménia. Ou seja, no ano passado, já havia 30 251 indianos a viver no nosso país, apenas menos 568 do que italianos.
PROCURA DESACELEROU
“Em 2021 verificou-se, pelo sexto ano consecutivo, um acréscimo da população estrangeira residente, com um aumento de 5,6% face a 2020, totalizando 698 887 cidadãos titulares de autorização de residência”, revela o RIFA. Todavia, apesar de ser o valor mais elevado registado desde 1976, o SEF refere que a pandemia de covid-19
SABER MAIS Onde há mais procura
Lisboa, Faro, Setúbal e Porto são os distritos mais procurados pelos imigrantes: 294 736 moram na capital. Bragança foi o único distrito que registou uma quebra na procura.
Quebra na nacionalidade
O RIFA conclui que houve uma quebra na tendência de crescimento do número de pedidos de aquisição da nacionalidade portuguesa. O SEF registou um total de 54 288 pedidos, menos 21,3% do que em 2020.
Mais pedidos de asilo
Os pedidos de asilo aumentaram 53,4%, face a 2020, totalizando 1 537. Destes, 68,4% foram apresentados por homens, sobretudo entre os 19 e os 39 anos. Quase 88% dos requerentes tinha menos de 40 anos. provocou uma “desaceleração” da procura, em 2020 e em 2021. À semelhança dos anos anteriores, o crescimento sustentado dos cidadãos da União Europeia é justificado no RIFA com a perceção de que Portugal é um país seguro e com as vantagens fiscais. A procura de trabalho é outro motivo que leva à procura do nosso país.
DESAJUSTE NOS SALÁRIOS
Jorge Malheiros, geógrafo, investigador e membro do Conselho para as Migrações, explica que “há algumas carências de mão de obra nacional”, pois os ordenados praticados em Portugal são pouco atrativos, no contexto europeu, para os portugueses qualificados e muito qualificados que optam por sair.
“Existe um desajuste entre as expectativas de carreira e os salários”, concretiza o investigador, o que conduz à emigração. “Portugal é um
dos países onde a repartição dos rendimentos gerados pelas organizações entre capital e trabalho é mais desfavorável ao trabalho”, garante. Em contrapartida, há imigrantes que procuram Portugal porque recebem ordenados mais elevados do que no seu país de origem, como é o caso dos indianos. Logo, o especialista em migrações alerta que, ao aumentar a oferta de mão de obra, as remunerações vão continuar a ser baixas.
“Há estudos que mostram que temos feito um progresso interessante ao nível do salário mínimo, mas temos tido uma perda do poder de compra dos salários médios”, avisa Jorge Malheiros. Favorável à substituição das quotas da imigração por vistos para a procura de trabalho, entende que deviam ter sido introduzidos de uma forma gradual e sido “mais negociados” com os parceiros sociais.