Brutalismo, sátira, maldade: o filme diz-nos o que é a guerra
FICÇÃO O lugar é Donbass, o tempo é 2014-15, já após a revolução ucraniana que depôs Viktor Yanukovych, pró-russo e marioneta de Putin, depois, também, da invasão do Donbass pela Rússia – uma apropriação militar que dura há oito anos e hoje, quando a nova guerra faz exatos quatro meses, se arraiga. Filmado como um documentário, “Donbass” é puro ácido e sátira, num relato sobre a natureza corrosiva do conflito entre nacionalistas ucranianos e apoiantes da República Popular de Donetsk, interposto da Rússia no Leste da Ucrânia. Ninguém sai bem desta animosidade maligna cuspida de ambos os lados.
Dividido em 13 segmentos de grande efeito brutalista e surreal, o espectador sente-se agredido a cada cena e sabe que a cena seguinte o vai levar na onda crescente de selvajaria e desumanidade. Corrupção e humilhação são as forças motrizes do filme do ucraniano Sergey Loznitsa, redundando num retrato perfurante de uma sociedade onde a interação humana desceu a um nível de barbárie mais adequado à antiguidade do que ao chamado mundo civilizado contemporâneo.
“DONBASS” Sergey Loznitsa Drama, 2018