“Obrigado por tornarem a minha vida tão linda”
Prestes a deixar o palco, Milton Nascimento atua no Porto, Braga e Castelo Branco
MÚSICA Do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, para uma digressão de consagração, celebração e despedida, distam quase 80 anos de vida de um dos maiores ícones da música popular brasileira. Milton Nascimento, o “mais mineiro de todos os cariocas”, escolheu o ano em que assinala oito décadas de vida e seis de carreira para levar à estrada “A última sessão de música”, uma série de concertos que marcam a sua despedida dos palcos. A última sessão de Lisboa, ontem no Coliseu dos Recreios, foi como Bituca canta: um cuidar da vida.
Casa cheia e ambiente efervescente, sentiu-se logo. O caso não era para menos: após 60 anos de carreira, Milton tinha escolhido Portugal, Itália, Inglaterra e Espanha, na Europa, para a sua última digressão.
Aqui, jogou claramente em casa, com a plateia inundada de brasileiros. E Milton entrou e foi logo ovacionado de pé. Depois de “Tambores de Minas”, “Ponta de areia” e “Catavento”, o artista disse logo: “Quero agradecer a todos vocês por tornarem a minha vida tão linda” e lembrou que tinha cantado uma música de Elis Regina, que foi, confessou, o amor da sua vida.
Sempre sentado, boina na cabeça, sorriso na cara e com aquela voz intemporal, Milton continuou a viagem pela carreira: “Morro velho”, “Outubro”, e “Para Lennon e McCartney” que originou uma dança coletiva. “Isto é a prova de que os meus sonhos jamais envelheceram”, disse.
Eterno poeta, o artista canta então, em “Clube da Esquina”: “Porque se chamavam homens; também se chamavam sonhos; e sonhos não envelhecem”.
A partir daí, o público entrou em modo efusivo até ao final: “Lília”, “Nada será
como dantes”, “Fé cega, faca amolada”, “Peixinhos do mar”, “Canção da América” – e o povo todo a dançar.
Entre novas vénias, tempo para “Tema de tostão incidental”, “Cio da Terra”, e “Maria, Maria”, onde canta sobre esta “estranha mania de ter fé na vida”, caminhando para um final apoteótico, com a sala em pé e a dançar até ao cair da cortina.
Fez encore com “Coração de estudante” e gritou: “Viva a democracia” – espoletando um coro de “Fora Bolsonaro”! Depois chamou uma “nova amiga” para cantar com ele, Maro; e
terminou com o icónico “Travessia”, em dueto com Carminho. Emocionada, a fadista destacou a honra “de fazer parte deste momento”, lembrando: Milton é “muito especial para muitos artistas; que se tornaram mais valentes, e melhores, por causa dele”.
Milton faz 80 anos em outubro e sai da estrada por motivos de saúde (diabetes e coração), mas não deixará de fazer música. O cantor atua agora em Castelo Branco (amanhã, Cineteatro Avenida), no Porto (dia 29, Casa da Música) e Braga (Theatro Circo, 2 de julho).