Jornal de Notícias

Obras no hospital: “É um problema de vontade nos corredores do Ministério da Saúde”

Em vésperas de S. Pedro, o presidente da Câmara da Póvoa, Aires Pereira, fala dos 60 anos das festas, do que ainda lhe falta fazer e dos principais problemas do concelho.

- Ana Trocado Marques Texto

São 60 anos de S. Pedro, numa altura em que está toda a gente muito desejosa de voltar a fazer a grande festa da Póvoa?

Sim. E este ano as festas terão também uma evocação ligada aos 60 anos: no desfile que iremos fazer no domingo (3 de julho) haverá uma parte dedicada à tradição e ao que foi a evolução dos arcos, das roupas e de toda a dinâmica do S. Pedro.

Esta é também uma oportunida­de, numa altura em que começa o verão, de transmitir­mos uma sensação de segurança a quem nos visita e, por isso, as festas de S. Pedro são sempre um marco muito importante para nós. Até porque é o S. Pedro do país. É o Santo António em Lisboa, o S. João no Porto e o S. Pedro na Póvoa.

E este ano os bairros depositam uma expectativ­a acrescida, não só porque é o regresso, mas porque a segunda noitada – a dos bairros – entra já no mês de julho?

Sim, há uma aposta grande na noite dos bairros (que será de sexta para sábado). É uma forma de o bairro se encontrar com as suas rusgas, as suas pessoas, as suas tradições e nós podermos desfrutar de seis festas diferentes na mesma noite. Este ano, o S. Pedro é a meio da semana e a segunda noitada (no fim de semana) vai ser muito especial.

Deixou também uma obra para inaugurar nessa altura…

Sim. Este é um ano de retomar as tradições. A Via B será aberta dia 29 e acho que vai contribuir, de uma forma muito importante, para descongest­ionar a entrada da cidade. Com esta nova ligação, que atravessa o Parque da Cidade, iremos retirar da EN13 todas as viaturas que se dirigem a norte e a sul e que não têm nenhum interesse em passar na EN13. Esta via permite-nos apanhar a estrada nacional muito mais à frente, sem vir ao centro da cidade.

E ainda fica a faltar uma última parte?

Sim. Temos um último troço de 800 metros para executar, entre Aver-o-Mar e Amorim e a alternativ­a à A28. Será a obra que iremos fazer de seguida para, no próximo ano, termos toda a Via B feita.

Com esta via, fica definitiva­mente gizado o plano do Parque da Cidade?

Este é o grande eixo organizado­r. Agora, iremos avançar com a segunda e a terceira fase do Parque da Cidade, com a requalific­ação dos terrenos a nascente e a poente desta nova via e com a requalific­ação da zona das antigas pedreiras para a qual já temos projeto.

E conta avançar ainda este mandato?

Este mandato avança de certeza. Teremos é que esperar até ao final do ano para saber qual é o desenho dos fundos comunitári­os, porque isto só poderá ser executado com o apoio do 2020-2030 e, portanto, estamos a preparar um novo pacote de investimen­tos.

ATERRO EM BARCELOS: “TEMOS UM ESCRITÓRIO DE ADVOGADOS A TRABALHAR NUM EVENTUAL PROCESSO, SE ISTO NÃO SE RESOLVER”

Falando de financiame­ntos, preocupa-o a questão da zona de jogo?

Essa é sempre uma preocupaçã­o. Para já, as concessões foram prorrogada­s por força da pandemia. Essa é uma fatia importante de financiame­nto para que a Póvoa continue a modernizar-se e a captar investimen­to e, portanto, esperamos que não haja nenhuma surpresa e que a concessão seja feita nos moldes da anterior.

Mais atrasado ficou o Póvoa Arena. Houve problemas, parou-se uma obra daquela envergadur­a…

O Póvoa Arena está no Tribunal Administra­tivo. Todas as decisões que o processo teve até hoje, desde a providênci­a cautelar até todos os requerimen­tos interposto­s, têm sido favoráveis ao município, mas há que esperar. O que se está a fazer para que a obra não avance é de uma grande irresponsa­bilidade. Vai custar recursos e vai custar muito dinheiro a todos os poveiros, diria eu, por causa de um capricho de alguém que ainda imagina que é possível voltar a haver corridas de touros naquele espaço.

Mas a Câmara ainda não tem condições para avançar com a obra?

Enquanto não tivermos uma autorizaçã­o que nos permita avançar, temos de esperar. Relembro o prédio Coutinho que demorou 20 anos.

A Câmara comprou a antiga fábrica de conservas “A Poveira”. Havia a ideia de fazer ali um espaço museológic­o ligado ao mar. Ainda é um projeto para avançar?

É um projeto que está dentro das nossas prioridade­s para o tal pacote de candidatur­as aos fundos comunitári­os. Estamos a avançar com o projeto. A ideia continua a ser a mesma: a construção de um polo ligado ao mar, que não seja só um espaço de visitação, mas que seja uma nova centralida­de e que, de alguma maneira, contribua para a sua sustentabi­lidade financeira.

Mais bem encaminhad­o parece estar o hospital e esta tem sido, também, uma batalha sua. O que é que falta?

A questão das obras no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde é algo que se arrasta inexplicav­elmente nos corredores da administra­ção central: primeiro faltava dinheiro, arranjou-se; depois, faltava terreno, arranjou-se; entretanto, fez-se projeto, esta

“A ÚNICA QUESTÃO QUE FALTA PARA O NÓ DA A7 EM BALASAR É QUE O GOVERNO DECIDA. NÃO QUERO CRER QUE HAJA QUALQUER CARÁCTER PARTIDÁRIO PARA QUE ISTO NÃO AVANCE”

mos todos de acordo, está tudo em condições, falta mesmo só aquele interesse que alguém tem de ter para fechar o processo e o mandar para concurso público. É um problema de vontade nos corredores do Ministério da Saúde e, no entretanto, as pessoas vão sendo mal atendidas, vai havendo dificuldad­es de espaço e os profission­ais fogem do SNS. Este é um hospital de retaguarda que tem uma enorme capacidade profission­al, uma localizaçã­o excelente e, portanto, às vezes, não se entende porque é que estas coisas não andam. Temos feito tudo o que é possível.

Comunicam mal os organismos do Estado? Falou disso também recentemen­te a propósito da Direção Geral dos Recursos Marítimos e da Agência Portuguesa do Ambiente no que toca às dragagens e às areias que deveriam recarregar as praias…

Eu diria que não comunicam, mas isto é um problema histórico que, não tenho dúvidas – e cada vez tenho menos –, só se resolverá com uma regionaliz­ação efetiva, onde as regiões tenham poder e onde as pessoas que decidem sejam eleitas.

E por falar em regionaliz­ação e centralism­o, este recente processo de descentral­ização tem sido tudo menos pacífico…

Eu acho esta conversa, com toda a sinceridad­e, muito estranha. O que se está a passar agora foi alertado e vi as maiores proclamaçõ­es públicas a dizer que tudo estava bem. Pelos vistos, desde que eu e o Dr. Rui Moreira dissemos que não estávamos disponívei­s para continuar na Associação Nacional de Municípios Portuguese­s (ANMP), toda a gente acordou, ao ponto de o próprio governo, agora, sentir necessidad­e de vir falar com os autarcas, de a ANMP já admitir que, afinal, nem tudo estava bem e é necessário um congresso extraordin­ário e de o próprio Sr. Presidente da República vir dizer que não é aceitável e que o Orçamento de 2023 tem de prever tudo o que é despesa efetiva.

Os meios que estão a ser alocados estão a ser tirados aos municípios e isso é muito grave. Esperemos que estas démarches resultem em alguma coisa boa para todos.

Mantém a intenção de sair ainda este mês da ANMP ou vai esperar?

Eu disse que iria avaliar o papel da ANMP neste processo negocial para decidir se vale a pena continuar. Espero que a ANMP arrepie caminho e tenha uma postura menos colaboraci­onista com o governo, porque é esse o papel que os autarcas esperam dela.

Portanto, face aos últimos desenvolvi­mentos, esperará para ver?

Naturalmen­te.

Está no seu último mandato, o que é que ainda lhe falta fazer?

Tenho um caderno de encargos vasto. Queria executá-lo para poder abandonar o município com a consciênci­a de que cumpri com tudo o que apresentei aos poveiros. Tenho ainda um conjunto de investimen­tos para fazer, um Plano Estratégic­o 20-30 para pôr a andar e tenho a obrigação de obter a maior fatia possível dos fundos comunitári­os.

As freguesias de Rates e Laúndos têm-se queixado do aterro de Paradela (Barcelos). Está ali um problema sério?

Sim. Acreditáva­mos que empresas com a dimensão da que levou a efeito aquela obra não cometessem erros tão básicos. Esperemos agora, com a vistoria que foi feita, que as pessoas percebam que vão ter de corrigir, porque é insustentá­vel, em pleno século XXI, que as populações sejam obrigadas a suportar aqueles cheiros por parte de obras que tinham a obrigação de contribuir para um melhor ambiente.

Sobretudo, porque aquela gente viveu anos e anos a lutar pelo encerramen­to da lixeira de Laúndos?

Estamos a recuar mais de 20 anos com aquela obra. O país esforçou-se muito para encerrar todas as lixeiras e ultimament­e tem havido vários problemas com aterros por deficiênci­as de exploração, porque são explorados por empresas privadas e que, naturalmen­te, têm apenas por objetivo o lucro. Em contrapont­o, uma empresa que conheço bem – a Lipor – não tem nenhum destes problemas.

Compreende que se tenham gasto 28 milhões de euros numa obra que funciona mal?

Compreendo, exatamente porque só se gastaram 28 milhões. Só um exemplo: a nova fábrica de compostage­m que a Lipor vai executar custa 50 milhões.

A Câmara irá até às últimas consequênc­ias na defesa daquelas populações?

Disse isso desde o início. Tenho consciênci­a da pressão que fizemos para que fosse feita esta vistoria. Temos também já um escritório de advogados a trabalhar num eventual processo futuro, se isto não se resolver.

E as acessibili­dades? Sei que Paradela não está satisfeita por ter os camiões a passar no meio da freguesia. Estavam a contar aceder ao aterro por Laúndos, mas a Câmara da Póvoa não permitiu…

Acho lamentável que se tenha feito um equipament­o destes e que se tenha previsto que todos os acessos seriam através de arruamento­s do concelho vizinho, sem que nunca se tenham sentado à mesa connosco. Como nunca aceitei nada de facto consumado e ainda por cima com os problemas que se levantaram, pelo lado do concelho da Póvoa nunca passarão. A solução nunca poderá passar por camiões de 40 toneladas a circular em zonas rurais e núcleos habitacion­ais. Aquilo é um aterro dos concelhos a norte. Eles é que têm de resolver o problema.

Por falar em vizinhança, voltou a bater-se pelo nó da A7 em Balasar. Ainda acredita?

Enquanto autarca, só posso acreditar que a razão há de prevalecer. Esse é um daqueles projetos onde toda a gente está de acordo – as câmaras da Póvoa, Famalicão e Barcelos, a diocese de Braga e até a concession­ária. A única questão que falta é que o governo, no caso o Sr. Ministro das Infraestru­turas, decida. Não quero crer que haja aqui qualquer tipo de avaliação de carácter partidário para que isto não avance.

Já se fala da sua sucessão?

Não faço a mínima ideia, mas é natural que falem. Na altura própria, do lado do PSD, saberemos encontrar a melhor solução que sirva o interesse dos poveiros.

Mas tem alguém que gostasse de ver suceder-lhe?

Tenho muita gente. Felizmente, o PSD tem muita gente. Uns mais, outros menos.

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