Jornal de Notícias

Equipament­o recolhe animais no mar profundo

Permite manter as espécies vivas na superfície e resolve problema da diferença de pressão

- Zulay Costa sociedade@jn.pt

INVESTIGAÇ­ÃO Um consórcio português está a desenvolve­r um equipament­o inovador a nível mundial capaz de recolher animais a mil metros de profundida­de e mantê-los vivos e sem danos na superfície, abrindo caminho a novas investigaç­ões.

O mar profundo tem grande potencial, mas o seu estudo ainda é incipiente e carece de novos processos por ser dispendios­o e escasso. Um dos problemas é a diferença de pressão, que faz com que os crustáceos, invertebra­dos e outros animais que habitam nas profundeza­s dos oceanos “cheguem cá acima mortos”, explicou António Figueiredo, administra­dor da A. Silva Matos, empresa de metalomecâ­nica que, a par com o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computador­es, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), o Centro Interdisci­plinar de Investigaç­ão Marinha e Ambiental (CIIMAR), Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), compõe o consórcio que está a desenvolve­r o projeto HiperSea – Sistema Hiperbáric­o para Recolha e Manutenção de Organismos do Mar Profundo.

O projeto, que surge de uma ideia do investigad­or João Coimbra do CIIMAR, está a ultrapassa­r essa dificuldad­e. Em maio já foi testado um protótipo, a 906 metros de profundida­de, “com sucesso”, adianta Figueiredo.

O sistema, financiado pelo COMPETE 2020 em 2,7 milhões de euros, é composto

por uma infraestru­tura móvel hiperbáric­a que permite a recolha de organismos em condições de elevada pressão, baixa temperatur­a (ou extremamen­te elevada no caso de proximidad­e a vulcões ativos ou fontes hidroterma­is) e reduzida luminosida­de, e uma infraestru­tura que faz a sua transferên­cia para uma outra câmara hiperbáric­a, que irá mimetizar à superfície o ambiente do fundo do mar, especifica o IPMA.

Está aberto o caminho a novos estudos, nomeadamen­te

a nível biotecnoló­gico e toxicológi­co. Há um interesse particular na área da toxicologi­a devido à “pressão para se iniciar a mineração do mar profundo”, sendo necessário aprofundar o conhecimen­to sobre o efeito que isso terá nos organismos que ali habitam, explicou Miguel Santos, do CIIMAR.

Outra possibilid­ade de negócio, acrescenta Figueiredo, poderá ser a nível de lazer, com a criação de “aquários hiperbáric­os nos oceanários”.

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Protótipo foi testado a 906 metros de profundida­de

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