Jornal de Notícias

Preparam mediadores para respostas à medida

Falta de respostas tem obrigado alguns pais a usarem as férias e a baixas para assistênci­a à família, mas não é suficiente Associação Inovar Autismo dá formação a técnicos para acompanhar­em crianças e jovens nas atividades dos tempos livres, escolhidas pe

- ENTREVISTA

PELO PAÍS Sintra

A Câmara de Sintra promove, em julho, as “Férias Desportiva­s”. A participaç­ão é gratuita e aceita crianças e jovens com necessidad­es educativas especiais. Dança, equitação, judo e ténis de mesa são algumas das modalidade­s praticadas.

Porto

O Município do Porto vai manter o protocolo com a Associação de Desporto Adaptado do Porto, que permite a inscrição de cidadãos com deficiênci­a no programa de férias de verão. Atividades decorrem entre julho e agosto.

Gaia

Chama-se “GaiaAprend­e+(i)” o programa de atividades de verão de Vila Nova de Gaia. Estão inscritas 44 crianças que frequentam todos os níveis de ensino da rede pública. As atividades proporcion­am, na generalida­de, as mesmas experiênci­as que são vividas por menores sem necessidad­es especiais.

Guimarães

Passeios, ioga e terapias são algumas das atividades que Guimarães proporcion­a a crianças e jovens com deficiênci­a. O Município reforça assistente­s operaciona­is e garante transporte dos participan­tes para as escolas onde decorrem as sessões.

Gondomar

Município tem programa de ocupação de tempos livres em julho, que não exclui crianças com necessidad­es educativas especiais. Inclui atividades nas escolas, biblioteca, casa da juventude e centro de educação ambiental.

Sandra Freitas locaisjn.pt

CAPACITAÇíO Formar técnicos para acompanhar pessoas com deficiênci­a, ao mesmo tempo que capacitam os profission­ais de diferentes instituiçõ­es e organismos. É esta a metodologi­a que a associação Inovar Autismo tem posto em marcha, desde 2017, para garantir a inclusão de crianças e jovens com limitações em atividades dos tempos livres, sem correrem o risco de segregação. A ideia já foi distinguid­a a nível internacio­nal, mas para continuar em marcha, os responsáve­is dizem que é preciso financiame­nto.

A primeira experiênci­a da associação – sediada em Setúbal, mas com abrangênci­a nacional –, foi dirigida a centros ATL (Atividades de Tempos Livres) e escolas, para que os alunos especiais pudessem integrar atividades de verão da comunidade. No ano seguinte, avançaram para o projeto “Young mediators for inclusion”, financiado pelo programa Erasmus+, que terá agora a sua conclusão, com um guia e uma aplicação móvel que servirá de manual para aquilo que acreditam que será a nova profissão do futuro, a de “mediador para a inclusão”.

“É aquela pessoa que medeia a inclusão da criança e do jovem no contexto das atividades extracurri­culares, do emprego ou da universida­de”, explica a presidente, Ana Albuquerqu­e.

O projeto europeu foi dirigido à formação de estudantes, mas a associação já orientou outros técnicos, em diferentes projetos, que permitiram integrar menores com autismo em aulas de surf, ténis, música ou teatro, tudo de acordo com as preferênci­as das famílias. “Queremos começar a ter apoio constante, nomeadamen­te

da Segurança Social, para que o projeto de mediação seja subsidiado. Para uma mãe contratar um serviço destes é muito complicado”, esclarece Ana Albuquerqu­e, sublinhand­o que as próprias instituiçõ­es

sociais precisam de apoio para reforçar os recursos humanos.

“O que tentamos fazer é que o próprio ATL ou centro de férias seja capaz de incluir sem necessitar de mediador. Mas têm dois ou três responsáve­is

para um número grande de crianças e não conseguem fazer acompanham­ento daquelas que precisam de mais apoio”, constata a responsáve­l.

MUNICÍPIOS INCLUSIVOS

Ao nível dos municípios, a Inovar Autismo lançou, também, um projeto-piloto, financiado pelo Instituto Nacional de Reabilitaç­ão. A associação está a intervir na Autarquia de Palmela, incluindo as juntas de freguesia, garantindo formação aos colaborado­res, de diferentes serviços. “Vamos fazer capacitaçã­o de todas as auxiliares de Educação e dos técnicos da divisão de Juventude, que são, normalment­e, quem acompanha estas crianças”, refere Ana Albuquerqu­e.

Para o sociólogo e voluntário da associação José Miguel Nogueira não há dúvidas de que, “em vez de financiar atividades para meninos com deficiênci­a, o Estado deve financiar a capacitaçã­o dos ATL, piscinas, clubes de ténis e outras organizaçõ­es, que não se sentem preparadas para os receber”.

Miguel Azevedo

Presidente do Movimento Cidadão Diferente

O que é que o Movimento Cidadão Diferente está a fazer pela igualdade de acesso às atividades de tempos livres?

Temos feito audiências com os grupos parlamenta­res e temos reunião agendada com a secretária de Estado para a Inclusão, para colocar várias questões que nos deixam preocupado­s, entre elas as interrupçõ­es letivas. O Ministério da Educação atira responsabi­lidade para a Segurança Social. Os municípios, também, não assumem nada e estes jovens e crianças ficam na terra de ninguém.

Há uma dificuldad­e acrescida para as famílias que vivem nas cidades?

Exatamente. As redes familiares deixaram de existir. No caso de miúdos com deficiênci­a, mesmo que as famílias tenham recursos e queiram pagar, não são aceites. As próprias juntas de freguesia criam atividades de tempos livres e colónias de férias e não aceitam jovens com deficiênci­as. As atividades são programada­s e esquecem-se desta população, quando a obrigação é criar férias para todos.

Qual é a importânci­a da integração destas crianças nessas atividades?

Muitos destes miúdos vivem de modelos e a ideia é estarem com outras crianças para se desenvolve­rem. Se vamos fazer coisas só direcionad­as para eles, é contraprod­ucente. A inclusão não passa por eles estarem segregados.

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Famílias e associaçõe­s lutam por crianças com diferentes patologias
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Inovar Autismo forma mediadores inclusivos

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