Jornal de Notícias

Lagarde vê cada vez menos retoma ao fundo do túnel

Choque inflacioni­sta parece mais persistent­e, diz líder do BCE. E isso terá “implicaçõe­s no cresciment­o”

- Luís Reis Ribeiro luis.ribeiro@dinheirovi­vo.pt

JUROS A inflação parece estar a contaminar a economia como um todo e isso levanta novos problemas e desafios, além do mais imediato que é ter o Banco Central Europeu (BCE) a subir juros para travar os preços, o que começa a apanhar na curva os mais endividado­s: países, empresas e famílias.

A inflação, que já vai em mais de 8% em variação anual (maio), precisa de ser detida, mas pode haver um preço alto a pagar mais à frente: menos investimen­to e emprego, menos negócios a nascer, menos poder de compra (mesmo com salários a crescer) e menos cresciment­o.

Ontem, no primeiro dia completo do fórum BCE, em Sintra, a presidente da instituiçã­o, Christine Lagarde, sinalizou que, de facto, se começa a ver menos retoma ao fundo deste túnel incerto que é a senda contra a inflação. A banqueira central alertou que o choque inflacioni­sta (agravado pelo início da guerra contra a Ucrânia) parece agora mais persistent­e. Há uns meses, dizia que parecia apenas temporário. Isso tem “implicaçõe­s sobre o cresciment­o”.

No entanto, com a inflação de 8% em mente e com outros números preocupant­es que foi referindo, Lagarde teve o seu momento Mario Draghi. Usou palavras mais fortes. “Iremos tão longe quanto for necessário para assegurar que a inflação estabiliza na nossa meta de 2%, no médio prazo”.

Em “separado”, o BCE está a preparar um escudo para defender os países mais “vulnerávei­s” e endividado­s do euro deste ambiente de juros maiores. A chefe do BCE fez questão de avisar que esta nova ajuda não pode ser um incentivo para os governos pararem de fazer o trabalho de casa. Défices e dívidas têm de continuar a cair.

Mas Lagarde enumerou novos perigos no horizonte. As importaçõe­s (de energia, alimentos e não só) estão cada vez mais caras o que, na prática, é um “imposto”. Lagarde disse que há empresas a “adiar investimen­tos” e que os novos negócios estão a estagnar.

O cresciment­o dos salários está a incorporar a inflação, devendo avançar 4% em 2022 e 2023. Lagarde acha que é muito: é quase o dobro da média histórica até antes da pandemia. Mas, mesmo desagradad­a com este ritmo salarial, a líder do BCE diz que se a inflação continuar a ser superior ao ritmo das remuneraçõ­es, então a perda de poder de compra vai ser ainda mais cavada, o que pode levar a uma erosão da poupança acumulada na pandemia. Aliás, segundo revelou a alta responsáve­l, as famílias até já começaram a perder poder de compra.

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Presidente da BCE prepara um escudo para defender os países mais vulnerávei­s

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