O último Santo Popular e o que não o é
Hoje é dia de S. Pedro, o último dos Santos Populares. Os quais, com o beneplácito da Igreja, se foram implementando para cristianizar as festas pagãs que celebravam o maior dia do ano, o solstício de verão.
Muito próximo desse dia, a liturgia cristã colocou a celebração do nascimento de S. João, a 24 de junho, que, segundo o Evangelho de S. Lucas, terá acontecido seis meses antes do nascimento de Cristo. S. João impôs-se como o santo popular do Porto e de Braga. Lisboa escolheu Santo António, porque aí nasceu, e celebra-o a 13 de junho, nos inícios do solstício. S. Pedro foi assumido por outras cidades, sem o destaque das principais do país. A Igreja celebra-o hoje, com S. Paulo.
São dois homens totalmente diferentes, unidos no mesmo dia.
Pedro era um pescador, inculto, diríamos hoje. Paulo tinha uma formação superior, como fariseu, mas abandonou a sua prática religiosa para aderir ao cristianismo.
Pedro assumiu o papel de referência dos apóstolos. Por isso, segundo os Evangelhos, Jesus muda-lhe o nome de Simão para Pedro, ou seja, rocha, alicerce. Apesar de se preocupar em consolidar a Igreja entre os judeus, converteu-se à sua disseminação entre os pagãos. Paulo aposta claramente no anúncio de Jesus aos gentios.
Estes dois homens viveram as tensões entre os cristãos que pretendiam manter-se fiéis às práticas da tradição judaica e aqueles que achavam que delas se deviam libertar. Paulo era claramente desta opinião. Contudo, para salvaguardar a unidade dos cristãos, conseguiram encontrar soluções de compromisso.
S. Paulo não entrou nos Santos Populares, mas foi decisivo com S. Pedro para a unidade da Igreja nascente. Hoje, os católicos, sobretudo aqueles que maiores responsabilidades têm no seio da Igreja, devem inspirar-se neles, para promoverem a renovação na fidelidade à tradição.