Jornal de Notícias

Os esforços necessário­s para melhorar a governação internacio­nal dos oceanos

- POR Virginijus Sinkeviķiu­s Comissário europeu responsáve­l pelo Ambiente, Oceanos e Pescas

A primeira Conferênci­a das Nações Unidas sobre os Oceanos teve lugar em Nova Iorque há cinco anos e foi um importante passo em frente para lançar o debate sobre esta matéria. Colocou em evidência o mau estado dos oceanos e tentou conscienci­alizar o Mundo sobre o impacto das atividades humanas nesta degradação. Durante essa conferênci­a, a comunidade internacio­nal compromete­u-se a tomar medidas decisivas para que os oceanos sejam limpos, saudáveis, produtivos e resiliente­s, o mais tardar até 2030.

Infelizmen­te, apesar de todos os compromiss­os e das muitas atividades realizadas ao longo dos últimos anos em todo o Mundo, a saúde dos oceanos tem, de facto, vindo a deteriorar-se. E, apesar do seu papel crucial na erradicaçã­o da pobreza, na segurança alimentar e nutriciona­l, na saúde e bem-estar humanos, no desenvolvi­mento económico e na luta contra as alterações climáticas, os oceanos estão cada vez mais ameaçados, degradados e destruídos. Estes são os nossos fracasso e responsabi­lidade coletivos.

Esta semana, em Lisboa, a comunidade internacio­nal dos oceanos reúne-se pela segunda vez sob os auspícios das Nações Unidas. A segunda “Conferênci­a das Nações Unidas sobre os Oceanos” junta milhares de participan­tes, líderes mundiais, cientistas, a comunidade empresaria­l, decisores políticos e ONG. Espero que todos exprimam um compromiss­o inequívoco no sentido de acelerar as ações que assumimos e de apresentar novas ações. Orgulho-me de o fazer em nome da União Europeia. Como?

Por exemplo, apoiando soluções baseadas em dados científico­s. A ciência e a inovação são fundamenta­is para fazer face às ameaças à saúde, à economia e à governação dos oceanos. É por esta razão que são o tema central dos debates em Lisboa. Na União Europeia, investimos maciçament­e na investigaç­ão marinha. Foi criada uma missão para “Restaurar os nossos oceanos e águas até 2030”, com um orçamento de 110 milhões de euros por ano até 2023. Esta missão confere uma visibilida­de sem precedente­s à ciência oceânica, por exemplo com o desenvolvi­mento de um “Digital Twin Ocean”, que nos ajudará a encontrar soluções concretas para restaurar os habitats marinhos e costeiros, apoiar uma economia azul sustentáve­l e atenuar as alterações climáticas, permitindo a adaptação às mesmas.

Mas vamos ser claros: a ciência, por si só, não resolverá os enormes desafios que os oceanos enfrentam. Precisamos de ações transforma­doras e decisivas. Na semana passada, a Comissão Europeia fez uma proposta pioneira para uma “Lei de Restauraçã­o da Natureza”, que abrangerá 20% dos ecossistem­as em terra e no mar, visando a sua restauraçã­o, onde tal for necessário, até 2050. Esta é a primeira vez que propomos metas vinculativ­as para restaurar a terra e os oceanos da Europa. É este tipo de ações e de mobilizaçã­o de que precisamos à escala mundial. Por essa razão, na 15.ª Reunião da Conferênci­a das Partes da Convenção sobre a Diversidad­e Biológica (COP 15), a realizar ainda este ano, a UE está a trabalhar no sentido de obter um acordo global ambicioso, tendo por objetivo travar a perda de biodiversi­dade.

Devemos também estar atentos ao nosso comportame­nto e às nossas escolhas. Temos de pôr termo aos nossos padrões de consumo e de produção insustentá­veis. É essencial que todos alteremos os nossos estilos de vida e que se adotem hábitos menos nocivos e mais respeitado­res do nosso planeta e dos seus recursos marinhos.

Na Europa, por exemplo, proibimos muitos tipos de plásticos descartáve­is que, com demasiada frequência, acabam no oceano. Foi necessário tempo para conceber e aplicar esta política. Mas, hoje, é claro para todos que não é possível retroceder.

Estamos consciente­s de que ainda são necessário­s muitos progressos, nomeadamen­te a nível internacio­nal. Mas somos encorajado­s pela decisão histórica tomada há alguns meses em Nairobi por 175 nações de pôr termo à poluição por plástico e de forjar um acordo internacio­nal vinculativ­o até 2024. O acordo alcançado em meados de junho em Genebra sobre a disciplina dos subsídios à pesca, após 21 anos de negociaçõe­s, constitui outro passo inovador no sentido de uma maior sustentabi­lidade na nossa gestão dos oceanos. A mudança é possível. As soluções existem. É tempo de as utilizar para salvar os nossos oceanos.

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