Os horizontes de Montenegro
Na noite das eleições legislativas, o lugar de presidente do PSD era o menos apetecível da política portuguesa. Hoje, é provavelmente dos mais desejados. Tem tudo a ver com o contexto. Quando Luís Montenegro decidiu avançar para a liderança dos sociais-democratas, fê-lo enfrentando a realidade da maioria absoluta do PS, adivinhando-se por isso uma longa travessia até 2026.
Mas o quadro macroeconómico, agravado pela guerra na Ucrânia, com aumento galopante da inflação, subida das taxas de juro, perda implícita de rendimento e consequente diminuição do poder de compra, associado à crise nas Urgências, estão a colocar o Governo numa situação política de desgaste, que pode naturalmente beneficiar quem está como líder da Oposição. Acresce o cansaço natural de um Executivo com maioria absoluta há três meses, mas que já leva quase sete anos de governação.
Tudo o que não depende de Luís Montenegro está a correr-lhe bem.
A grande questão do congresso deste fim de semana do PSD, no Porto, não é, portanto, a estratégia política do novo líder, nem os temas que vai escolher para colocar na agenda como afirmação de oposição à maioria absoluta. Nem sequer, internamente, a vontade de fazer tudo diferente de Rui Rio, que fará, juntando forças para evitar a divisão. A questão central são as perguntas que lhe têm feito e a que ele não tem respondido. E essas, sim, balizarão a sua estratégia eleitoral, porque mostrarão o que quer o partido para além de esperar que o poder caia de maduro. Os sociais-democratas vão a votos sozinhos nas próximas eleições europeias, ou o mapa que pretendem traçar passa por criar uma plataforma que junte as forças do espaço político alternativo ao PS, não só o CDS como a Iniciativa Liberal? E esse espaço integrará o Chega ou não? Perguntas simples, de respostas complexas.