Cultura ainda tem de “andar de chapéu na mão”
Na QSP Summit, artistas refletiram a posição piedosa e falta de financiamento para o setor
DEBATE O regresso à normalidade após a pandemia está a ser marcado pelo retorno dos eventos culturais, com adesão massiva. No entanto, os agentes culturais, que criticam a falta de financiamento do setor, não sabem se a procura veio para ficar ou se é reflexo de dois anos de restrições.
No worklab “Cultura no centro da mudança”, que decorreu ontem na QSP Summit, na Exponor, o painel, composto pelos músicos Luís Represas e Tim, pela artista plástica Joana Vasconcelos e, como moderadora, pela diretora do JN, Inês Cardoso, discutiu o sucesso dos eventos culturais: “Não sabemos se esta adesão é apenas pelas pessoas terem vontade de sair após dois anos [de pandemia], ou se o setor passou a ter outra valorização”, declarou o cantor Luís Represas.
As apostas no setor da cultura por parte do Governo continuam a estar “aquém” do pretendido. Nos dois anos de pandemia em que se realizaram as eleições presidenciais e legislativas, Luís Represas disse “não ter ouvido falar de cultura em nenhum debate”. O cantor entende que existe “uma visão caritativa” para com o setor. Tim, dos Xutos e Pontapés, afirma que “o público está a tirar a barriga de misérias” este verão. E partilha o desânimo por saber que os artistas ainda têm de enfrentar a “cultura de andar de chapéu na mão”.
“Não há uma lei cultural efetiva neste país”, considera Joana Vasconcelos, certa de que a cultura “é uma potência de novas perspetivas sociais”. Portugal não tem projetos governamentais para o setor, como exemplificou sobre a “Lei Rouanet, que faria a diferença”.
“Quando a pandemia começou, tivemos de responder ao primeiro chamado, como na tropa”, partilha Represas. Apesar dos apoios do Estado, “não há um projeto e não pode distribuir-se dinheiro como se dá o bodo aos pobres”.
Líder da AEP apela à capacidade de antecipação
O presidente da Associação Empresarial de Portugal, Luís Miguel Ribeiro, adverte para a necessidade das empresas terem capacidade de antecipação face à evolução geopolítica com “implicações socioeconómicas incontornáveis”. “Hoje mais que nunca temos de ser capazes de pôr em causa as tradicionais formas de pensamento”.