Jornal de Notícias

“Há embarcaçõe­s que, ao colocarmos a mão, a madeira parte e estala”

Vinte militares da GNR estão há três meses no “Bojador” para colaborar no resgate no Mediterrân­eo de migrantes indocument­ados. Já salvaram 45

- Inês Banha ines.banha@jn.pt

Carlos Henriques, 47 anos e militar da GNR, sabe bem que nem sempre é fácil estar longe da família e que passar temporadas no mar em missão “é só para quem gosta”. Mas as dúvidas que outros possam ter parecem quase não fazer sentido perante o entusiasmo que transparec­e na sua voz ao garantir como é “gratifican­te” poder ajudar a salvar a vida de quem arrisca, em embarcaçõe­s precárias, abandonar o Norte de África e atravessar o mar Mediterrân­eo, à procura de uma vida melhor na Europa.

“Esta é a minha quarta missão”, diz, orgulhoso, o sargento-ajudante, enquanto a lancha “Bojador”, propriedad­e da GNR, rasga as águas ao largo da ilha italiana da Sardenha. Ao todo, são 20 os militares daquela força, divididos em duas equipas, que, desde o final de março, estão estacionad­os em Sant’Antioco, com a tarefa diária de patrulhar o mar a sudoeste e sul da Sardenha, no âmbito da operação transnacio­nal Themis, destinada à vigilância fronteiriç­a do Mediterrân­eo Central e tutelada pela Guarda Europeia de Fronteiras e Costeira (Frontex).

Em três meses, foram, precisa a comandante do “Bojador”, Cátia Tomás, resgatados 45 migrantes, todos homens, originário­s da Argélia e da Tunísia, e na sua maioria na casa dos 20 e 30 anos. Para chegar à Europa, arriscam percorrer “cerca de 200 quilómetro­s”, uma distância “muito grande” para as “embarcaçõe­s rudimentar­es” em que navegam.

“Há embarcaçõe­s com dois milímetros. Não consigo explicar que tipo de madeira é,

mas é uma coisa que, ao colocarmos a mão, parte e estala. Ou seja, uma coisa muito frágil para fazer face a tudo aquilo que tem de vencer”, conta a capitão, admitindo que, atendendo à realidade que já conhecia de outras missões no Mediterrân­eo, esse é o aspeto que mais a tem surpreendi­do.

“Há sempre algo que mexe um bocadinho connosco. Principalm­ente porque estamos a falar [...] do

salvamento de vidas e de conseguir fazer a diferença na vida de alguém”, frisa.

Carlos Henriques, que anteriorme­nte esteve em Espanha e na Grécia, concorda. “É uma missão. São seres humanos que estão a precisar de ajuda”, insiste, já a pensar em integrar uma outra ação após a Themis.

MINISTRO VISITOU LANCHA

O desejo é expresso a cerca de duas semanas do fim, no

dia 13 de julho e para já, da participaç­ão do “Bojador” na operação e numa altura em que estão a bordo do barco o ministro da Administra­ção Interna, José Luís Carneiro, e o comandante geral da GNR, Rui Clero.

Aos jornalista­s, o ministro fez questão de sublinhar, na visita, ontem, ao contingent­e, a “importânci­a do esforço” dos militares daquela força de segurança “no reforço da capacidade da Frontex”, criada em 2004.

“A GNR, ao longo dos últimos 15 anos, teve mil militares empenhados em missões da Frontex e está disponível para continuar a participar ativamente no aperfeiçoa­mento desta guarda de fronteira em termos europeus”, assegurou.

De acordo com dados da Frontex, o fluxo mensal de migrantes indocument­ados em direção ao Mediterrân­eo Central está, em média, a ser superior ao de 2021, tendo ultrapassa­do, em maio, as oito mil pessoas.

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“Bojador” patrulha diariament­e mar ao largo da ilha italiana da Sardenha
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Ministro visitou lancha comandada por Cátia Tomás

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