Profissionais de saúde aprendem língua gestual
Centro Hospitalar do Baixo Vouga está a ministrar formação a três dezenas de funcionários para prestar melhores cuidados de saúde
AVEIRO Estar numa sala de espera de um hospital e não ouvir a chamada do seu nome. Ter uma emergência hospitalar e não conseguir explicar o que tem. Entrar numa sala de partos, prestes a ter um filho, e não ter ao lado ninguém que fale a mesma língua que a sua. É com essas, e com muitas outras, dificuldades que se deparam as pessoas surdas, quando têm de recorrer a um hospital. Por isso, para esbater essas barreiras, o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), em Aveiro, tomou a iniciativa de ministrar a 30 dos seus profissionais de saúde um curso de língua gestual portuguesa. Para “promover a saúde com base na igualdade da diferença”.
Sentados frente a frente, em duplas, os formandos gesticulam. Estão a falar sobre a pandemia de covid-19, mas nem um som é emitido. O formador bate palmas para lhes captar a atenção, dá um novo tema, e os formandos continuam a conversação. Sempre sem sons. Quem não sabe língua gestual portuguesa não entende nada do que ali se passa. Mas eles, que ainda nem 30 horas de formação têm, já conseguem comunicar uns com os outros. “Isto superou as nossas expectativas. E até as do formador”, garante Margarida França, presidente do Conselho de Administração do CHBV.
A sugestão chegou ao Conselho de Administração do CHBV através de Celeste Coimbra, médica ortopedista, que já tinha feito uma formação em língua gestual portuguesa e achou que era imperativo que os profissionais de saúde tivessem contacto com aquela língua. “Se uma pessoa surda ligar para o 112 através de uma ‘app’, já tem disponível um tradutor. Mas se tiver de ligar para os bombeiros ou para a Polícia, por exemplo, tem imensas dificuldades. Não se consegue fazer entender. O Mundo não está preparado. E todo o contributo que possamos dar é essencial”, explica Celeste Coimbra.
DE MÉDICOS A ASSISTENTES
Margarida França achou a ideia “interessante”, mas inicialmente ainda duvidou da adesão que poderia ter. Mesmo assim, fez-se a experiência. “O nosso serviço de formação enviou um e-mail e, qual o nosso espanto, mostraram-se interessadas quase 300 pessoas. Depois, acabaram 94 por se inscrever, mas não pudemos satisfazer todas e tivemos de fazer uma seleção”, recorda.
Nas duas turmas de formação estão médicos, assistentes operacionais, enfermeiros e administrativos. Os profissionais do Serviço de Urgência e do de Otorrinolaringologia tiveram prioridade. Depois, os de Pediatria e de Ginecologia e Obstetrícia. E também quem está no atendimento das consultas e da Urgência.
AJUDA IMPORTANTE NA URGÊNCIA
“Claro que estas pessoas que fizeram o curso não vão ser intérpretes oficiais. Mas sentimos que podem ajudar uma pessoa surda que esteja aflita na nossa Urgência, por exemplo”, sublinha Margarida França. E foi precisamente tendo isso em mente que os formandos se inscreveram. É o caso de Sandra Gregório, assistente operacional no Serviço de Obstetrícia. “Quero estar apta para ajudar, caso surjam utentes que tenham esta necessidade”, atesta a funcionária do CHBV.