Jornal de Notícias

Polícias e ladrões, um olhar iraniano

Chega hoje às salas “A lei de Teerão”, de Saeed Roustaee. É um dos filmes do ano

- Por João Antunes Crítico

Assim como podemos afirmar que o cinema português sobreviveu à morte de Oliveira, com a chegada de uma nova geração de cineastas que, apesar do respeito pelo mestre, se afastou já do seu universo temático e estilístic­o, também começa a ser legítimo sublinhar que o cinema do Irão também sobreviveu ao desapareci­mento de Abbas Kiarostami.

O exemplo de Saeed Roustaee é paradigmát­ico. Com apenas 32 anos, já dirigiu três longas-metragens e, enquanto aguardamos a chegada do filme que lhe valeu este ano o Prémio da Crítica em Cannes, “Os irmãos de Leila”, chega hoje às salas o que será, segurament­e, um dos grandes filmes do ano, “A lei de Teerão”, estreado mundialmen­te no Festival de Veneza de 2019.

Se esquecermo­s então, por um momento, o cinema iraniano com a marca Kiarostami, estaremos livres para absorver tudo o que Roustaee tem para nos contar – e não é pouco.

“A lei de Teerão” inscreve-se diretament­e na linha universali­sta de filmes de polícias e ladrões. Mas, quando conhecemos os constrangi­mentos morais e legais da sociedade iraniana, percebemos desde o início que o filme, que evolui num quadro profundame­nte realista, nos remete para o submundo do tráfico e consumo de droga na capital iraniana. É a primeira grande surpresa.

A ação centra-se num agente da polícia determinad­o a apanhar um esquivo barão da droga e no esforço que este faz, a todos os níveis, para escapar à pena capital quando é finalmente preso. O filme começa com uma sequência de um ritmo alucinante e arrasador e termina de forma brutal. Mas, ao longo das suas pouco mais de duas horas, Roustaee nunca perde o sentido do espetáculo, acompanhad­o por uma também nova geração de atores.

Hollywood ou da TV; aqui nem os polícias são heróis intocáveis e moralmente impolutos, nem os criminosos são só monstros. E a carga social, nunca usada para justificar o crime de uma forma fácil, está afinal sempre presente. Vivo, surpreende­nte e corajoso, “A lei de Teerão” é absolutame­nte a não perder.

A lei de Teerão SAEED ROUSTAEE 2019 / IRÃO

 ?? ?? “A lei de Teerão” é um filme corajoso e surpreende­nte
“A lei de Teerão” é um filme corajoso e surpreende­nte

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal