Dizem as férias ao livro
“Perdoa-nos: queremos-te muito. Cada vez nos apetece mais estar contigo na duna, na areia, nos alívios do corpo entre o sol e a água. Muito lermos cada recesso teu, muito chegarmos a cada página. Por favor, sê nosso acessório de praia.
Primeiro usamos o protector, e dele besuntados pegamos-te pela capa e talvez comecemos pela badana, que seria bem melhor como no Brasil, onde se diria assim: talvez comecemos pela orelha. E estaremos tão reencontrados, tão na matança das saudades, que não nos incomodará a força do sol e a dorzinha da falta de posição no sopé das costas; que não nos incomodará acabar tudo com a areia nos sítios indevidos.
Perdoa-nos, já nos esquecia como és bom. Como nos desarranjas e levas para onde não esperávamos e mostras o que não conhecemos e nos pões em causa e nos tornas mais sábios. És bom porque és vida além da nossa. Sê agora clemente, ignora (please) o que dissemos, e quantas vezes o repetimos – aquilo de saíres caro e de não termos tempo e de seres uma seca.
Mas queremos reatar sem falsidades. Ultrapassados os ressentimentos, longe do bad blood, verás que sabe muito melhor. Por isso, confessamos. Este ano, por causa da crise no abastecimento do papel, engordaste no PVP. Fizeste-te de caro. E a nós faltou-nos a paciência para os teus caprichos, tu que queres sempre as nossas mãos em cima das tuas páginas, e que precisas que nos sintamos cativados por cada palavra tua. Tu, cuja sedução é feita de silêncio, nada de acordo com as habituações imediatas do digital. Confessamos que já nos pareceste um amante antiquado.
Perdoa-nos. Deixa que te mudemos o fitilho de sítio, deixa que te dobremos a ponta da página ao fim de cada assentada, quando perdermos o fôlego para mais e precisarmos do mergulho e do gelado.
Por agora, podemos ter-te só por prazer, só por amor de Verão. Tu possessivamente nosso antes que se meta Setembro, e com esse mês o regresso das obrigações e dos compromissos, o drama da rotina, em que deixamos de te querer na cama e passamos a pensar, para nosso mal, que afinal nos sais mesmo caro, não temos tempo e, bem vistas as coisas, até és um bocado seca.
Por isso perdoa, esquece, e dá-nos sem medos todos os teus capítulos, entrega-nos os teus parágrafos. Prometemos fingir que é para sempre”.
Ouvidas estas juras depois de ter sido esquecido durante todo o ano – longínquo à vista e ao coração –, o livro responde às férias: Fuck you.
Tu que queres sempre as nossas mãos em cima das tuas páginas, e que precisas que nos sintamos cativados por cada palavra tua. Tu, cuja sedução é feita de silêncio, nada de acordo com as habituações imediatas do digital. Confessamos que já nos pareceste um amante antiquado