Jornal de Notícias

Há menos professore­s a pedirem para dar aulas perto de casa

Mudança das regras reduz o número de solicitaçõ­es de mobilidade por doença. Baixas médicas podem disparar

- Alexandra Barata alexandra.barata@ext.jn.pt

EDUCAÇÃO O número de professore­s que pediu mobilidade por doença baixou de dez mil para cerca de 7500, em relação a 2021, sobretudo devido à alteração daquele regime, nomeadamen­te a introdução de um critério de distância (ler ficha). Contudo, houve mais de 1500 docentes que apresentar­am exposições ao Ministério da Educação, na expectativ­a de que ainda possam ser colocados em escolas mais próximas da área de residência. O ministro João Costa vai ser ouvido hoje, no Parlamento, sobre as alterações ao regime de mobilidade por doença.

“Segundo o Ministério da Educação, no ano passado, foram apresentad­os cerca de dez mil pedidos de mobilidade por doença e, agora, disseram-nos que foram apresentad­os 7500”, revela, ao JN, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof-Federação Nacional de Professore­s. A informação foi transmitid­a na sexta-feira, quando foi entregar as exposições de 46 docentes “prejudicad­os pelas novas regras” e que pediram a análise dos seus processos. Outros optaram por entregar as suas próprias exposições.

Pedro Barreiros, presidente do Sindicato dos Professore­s da Zona Norte (SPZC) e vice-secretário-geral da FNE-Federação Nacional da Educação, revela que deram apoio na preparação das exposições a 1424 docentes que não puderam apresentar pedido de mobilidade por doença, por não cumprirem os novos critérios. As delegações do SPZC que receberam mais pedidos de ajuda foram as do Porto (220), Vila Real (200), Chaves (195) e Bragança (150).

POR POUCOS QUILÓMETRO­S

As suspeitas de fraude nos pedidos de mobilidade por doença, referidas pelo Governo nas rondas negociais com os sindicatos, estão longe de ser a única explicação avançada por Mário Nogueira para a redução do número de solicitaçõ­es.

“Alguns professore­s reformaram-se, outros mudaram de escola e outros não reúnem o critério dos 20 quilómetro­s”, exemplific­a. Pedro Barreiros acredita que este é o principal motivo pelo qual muitos docentes não puderam pedir para mudar para escolas mais

próximas de casa. É o caso de Sílvia São Miguel, 62 anos, professora da Maia, que tem “duas doenças altamente incapacita­ntes”, que lhe causam dor constante e a obrigam a quatro horas de tratamento diário no hospital.

Efetiva na Agrupament­o de Escolas de S. Mamede Infesta, conseguiu mobilidade por doença, este ano letivo, para o Agrupament­o de Escolas Coronado e Castro, na Trofa, onde diz estar “no paraíso”. “Ficar colocada tão próximo de casa e do hospital amenizou as doenças. Não dei uma falta, enquanto, em anos anteriores, sim, porque não conseguia conduzir com dores”, recorda.

Apesar de reunir condições para pedir mobilidade por doença, a professora ficou impedida de se candidatar à mesma escola por poucos quilómetro­s.

“A distância entre a escola para a qual pretendia concorrer e a sede do concelho [Câmara de Matosinhos] da minha escola de provimento dista menos de 20 quilómetro­s em linha reta”. Apesar disso, tem a esperança de que o Ministério da Educação seja sensível à sua situação. “Estou nesta luta, porque quero trabalhar e esta escola é a única que me permite conciliar tudo”.

O caso de Sílvia São Miguel, como o de tantos outros professore­s com incapacida­de por doença, leva o sindicalis­ta Pedro Barreiros a temer que muitos recorram ao atestado médico e metam baixa, por não terem condições para trabalhar. “Vou ouvindo isso todos os dias. O secretário de Estado António Leite está preocupado em combater o absentismo e a falta de professore­s, mas estas medidas vão potenciá-los”.

Pedro Barreiros FNE “Estão preocupado­s em combater o absentismo e a falta de professore­s, mas estas medidas vão potenciá-los” Mário Nogueira Fenprof

“Em 2021, foram apresentad­os cerca de dez mil pedidos de mobilidade e, agora, foram apresentad­os 7500”

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Sílvia São Miguel recorda que, ao ser colocada na Trofa, ficou próxima de casa e do hospital que a segue

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