Assim vai o Mundo…
Como já sou velhinho, lembro-me dos tempos em que ia ao cinema e antes de começar o filme propriamente dito, para além das promoções das fitas que estariam em cartaz nos meses seguintes, era sempre projetado um magazine de notícias e fait-divers que se chamava “Assim vai o Mundo”.
Foi deste título que me lembrei quando escolhi relatar nesta crónica uma experiência que tive a meio de mês de junho, quando viajei do Porto até Frankfurt para acompanhar a presença na Techtextil/Texprocess e Heimtextil de algumas dezenas das empresas mais inovadoras do têxtil e têxtil-lar português. Estava a viajar com uma colaboradora de há muitos anos e foi até ela (que não nomeio para não a envergonhar) que me chamou a atenção para a situação que passo a descrever.
Como isto não se trata de um filme de suspense, não há problema nenhum em começar a estória pelo fim. O que aconteceu, e que tanto se poderia chamar “Assim vai o Mundo” como “Assim vai a Alemanha”, é que desde que levantámos voo do Aeroporto Sá Carneiro até 70 horas depois, não nos relacionamos com nenhum alemão. Na verdade, desde os passageiros que viajaram nas nossas imediações, até aos funcionários com que interagimos no aeroporto de Frankfurt, passando pelo motorista de táxi que nos levou ao hotel e pelos empregados do hotel que nos fizeram check-in, não falamos com ninguém que tivesse nascido na Alemanha. Em seguida, durante as longas horas que passamos no apoio à montagem dos stands dos nossos expositores já em plena Messe Frankfurt, voltamos a não ter oportunidade de trocar uma palavra que fosse com um nado e criado na Alemanha.
Já agora, refira-se por graça que entre um dia e o outro jantamos num restaurante italiano onde só havia empregados italianos e acabamos a noite a tomar uma bebida no bar do hotel servidos por dois emigrantes portugueses. Diga-se de passagem, supereficientes, atenciosos e simpáticos.
Chegados ao primeiro dia de trabalho na feira (terceiro dia em Frankfurt), estivemos naturalmente mais em contacto com os portugueses que integravam a comitiva From Portugal, mas nos relacionamentos que tivemos com empregados dos bares, seguranças dos stands, hôtesses de acolhimento e funcionárias de limpeza, voltamos a não identificar um único alemão em termos do critério definido atrás. Foi finalmente na festa de confraternização de todos os expositores da feira, que teve lugar no final deste dia, que pudemos falar com alguns alemães nascidos na Alemanha, a começar pelo sempre atento e disponível presidente da Messe Frankfurt, Olaf Schmidt.
Como devem imaginar, o facto de termos estado 70 horas sem interagir com um alemão em terras alemãs não tem rigorosamente mal nenhum. Nesta viagem, o objetivo era que os alemães comparecessem como bons compradores nos stands dos nossos expositores e foi isso que aconteceu. Mas não deixa de ser uma curiosidade constatar que é “assim que vai o Mundo”.