A eficácia do mata-borrão
Depois de vários dias de ausência, com o Governo a ser diariamente alvo de críticas devido ao caso Sérgio Figueiredo, à falta de medidas adicionais apesar da seca extrema ou à ineficácia do combate quando a área protegida da serra da Estrela ardia há quase uma semana, António Costa saiu do silêncio para vir comentar tudo e mais alguma coisa. Em meia dúzia de minutos, respondeu com ar bonacheirão a todas as perguntas dos jornalistas, fintou os temas mais incómodos com humor, comentou não comentando aquilo que o poderia comprometer.
Até à manhã de sexta-feira, esta poderia ser a crónica de uma semana desastrosa para o Governo. Com episódios que roçam a total falta de sentido institucional, como é o caso das declarações da ministra da Agricultura sobre as posições partidárias tomadas pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) durante a campanha. A partir de sexta-feira, é inevitável olhar para a eficácia de Costa a tentar aparar as munições dadas pelos seus próprios colegas ao inimigo. Não é todos os dias que ouvimos um presidente da República qualificar um primeiro-ministro como um bom mata-borrão. Mas tem razão, Marcelo Rebelo de Sousa. E não são apenas as boas ideias que António Costa absorve. Ao mesmo tempo que coleciona elogios externos aos projetos do país e à sua capacidade política, tenta apagar as manchas espalhadas internamente pelos membros do Governo.
Nem todos os golpes de cintura, contudo, escondem o óbvio: o assunto Medina e Figueiredo não está morto e enterrado. Como não está ultrapassado o impasse no aeroporto, como são insuficientes as medidas para fazer face à seca ou para responder à urgência de reduzir o consumo de gás, como se espera com impaciência o prometido plano para apoiar famílias e empresas. A experiência política ajuda, mas António Costa precisa de equipa. Uma equipa que decida melhor e requisite menos o seu papel de mata-borrão.