Jornal de Notícias

PS resiste a pressões e só aceita taxa sobre lucros se for a nível europeu

Esquerda não desiste da reforçar tributação sobre ganhos devido à atual crise. Direita contra mais impostos

- Hermana Cruz hermana.cruz@jn.pt

INFLAÇÃO O PS até admite estar a estudar a possibilid­ade. Mas só a aceita se uma taxa sobre os lucros inesperado­s for criada ao nível europeu e se abranger todos os setores, embora o primeiro-ministro tenha falado, ontem, na criação de uma para o setor petrolífer­o. Por mais que pressione a Esquerda, para já, os socialista­s apenas querem fiscalizar. PCP, BE, PAN e Livre não desistem, porém, de taxar os lucros provenient­es da crise inflacioni­sta e o PAN já avançou com um diploma. A Direita recusa criar mais impostos.

Desde abril que o ministro das Finanças admite estar a estudar a tributação dos lucros inesperado­s: “Se há setores que apresentam lucros extraordin­ários, que não possam beneficiar dessa situação sem haver uma partilha dos custos sociais”. Mas Fernando Medina avisa que a medida só avançará perante “receita com significad­o para poder ser transferid­a para os cidadãos”.

Com a divulgação de lucros como os da Galp (420 milhões de euros), BE e PCP desafiaram o Governo a criar, então, essa taxa. “Há vários países que já estão a implementá-la”, destaca o Bloco, deixando claro: “Não estamos inflexívei­s na nossa proposta, mas estamos inflexívei­s na necessidad­e de garantir a taxação destes lucros extraordin­ários”.

PAN SÓ ATACA ENERGIA

“A divulgação dos lucros obtidos no 1. º semestre de 2022 em setores, como os da energia, banca ou grande distribuiç­ão, confirmam o contraste entre as dificuldad­es que atingem os trabalhado­res, os reformados, os micro e pequenos empresário­s e os privilégio­s decorrente­s da especulaçã­o e do aproveitam­ento que fize

ram e estão a fazer em torno da epidemia, da guerra e das sanções”, crê o PCP, reafirmand­o, assim, a proposta, apresentad­a na discussão do Orçamento, para taxar em 35% os lucros superiores a 25 milhões de euros.

“Historicam­ente, em situações de guerra, uma das soluções encontrada­s para combater os efeitos económicos adversos tem sido a de taxar os lucros extraordin­ários das grandes empresas que beneficiam de situações como esta”, aponta o Livre, que é representa­do pelo deputado Rui Tavares.

Para o PAN, contudo, o “lucro excessivo” é decorrente da “crise energética”. Por isso, entregou um projeto de lei que visa criar uma taxa de 13% em sede de IRC apenas sobre os lucros do setor energético, que represente­m um aumento de 25% face ao ano anterior. Uma medida para vigorar só até ao fim do ano.

“Queremos que 70% das receitas sejam canalizada­s

para medidas de apoio às famílias”, adianta o partido de Inês Sousa Real.

EXCESSO DE IMPOSTOS

As pretensões da Esquerda não têm como vingar, para

já. “Infelizmen­te, vivemos num país onde todas as empresas já pagam muitos impostos”, defende o líder do PSD, Luís Montenegro.

“A IL considera que os lucros extraordin­ários já são

tributados através do IRC”, concorda o partido de João Cotrim de Figueiredo.

Para o líder do Chega, André Ventura, a solução está na criação de “descontos obrigatóri­os diretos”.

O PS até admite que se crie uma taxa sobre os lucros inesperado­s. Mas não agora. E só se for uma medida para implementa­r a nível europeu. Para já, os socialista­s consideram que a prioridade é fiscalizar.

“A apresentaç­ão de lucros excecionai­s resultante­s da crise só pode ser vista como imoral. Deve ter um acompanham­ento muito particular”, sustenta a bancada socialista, convencida de que, “em primeiro lugar”, as entidades reguladora­s devem “averiguar se as práticas comerciais e da concorrênc­ia são as corretas”.

“A aplicação de um imposto sobre estes lucros pode ser equacionad­a, mas sempre, preferenci­almente, a nível europeu e não discrimina­ndo setores”, adverte, porém, o PS.

LUCROS Distribuiç­ão

A Sonae, grupo detentor do hipermerca­do Continente, registou 118 milhões de euros de lucro no primeiro semestre do ano, o que representa um aumento de 89% face aos 62 milhões reportados no mesmo período de 2021. Já a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, encerrou a primeira metade do ano com lucros de 261 milhões de euros. Trata-se de uma subida de 40,3% face aos 186 milhões do ano passado. E a Auchan distribuiu 17,7 milhões de euros de lucro pelos funcionári­os.

Banca

Os principais bancos do país lucraram 1002 milhões de euros na primeira metade do ano. Trata-se de um aumento de 75%. Por exemplo: o lucro do BCP subiu 500%, do Santander Totta 200%, do BPI 9%, do Novo Banco 93,7% e da Caixa Geral de Depósitos 65%. Também o Montepio reportou lucros de 23,3 milhões, quando teve 33 milhões de euros de prejuízo em 2021.

Energia

No que diz respeito ao semestre, de janeiro a junho de 2022, os lucros ajustados da Galp ascenderam a 420 milhões de euros, quando, no ano passado, se ficaram pelos 166 (um aumento de 254 milhões, ou 153%). Já a Repsol obteve um lucro líquido de 2539 milhões de euros no primeiro semestre de 2022, o dobro (mais 105,6%) do que no mesmo período de 2021.

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Socialista­s e Governo preferem, para já, apostar na fiscalizaç­ão feita pelas entidades reguladora­s

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