Jornal de Notícias

Rússia acena com rutura diplomátic­a

Moscovo alertou Washington que colocar a Rússia na lista de estados “patrocinad­ores do terrorismo” pode colapsar relações entre os dois países

- Sílvia Gonçalves silvia.goncalves@jn.pt

DIPLOMACIA Num momento de especial tensão entre os Estados Unidos e a Federação Russa, a remeter para uma retórica de Guerra Fria, Moscovo veio alertar Washington que colocar o país na lista de patrocinad­ores do terrorismo do Departamen­to de Estado dos EUA poderá significar “um ponto sem retorno” diplomátic­o e desencadea­r mesmo o colapso total das relações entre os dois países.

Em entrevista à agência noticiosa russa TASS, citada pelo jornal The Guardian, Alexander Darchiev, diretor do Departamen­to para a América do Norte do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, questionad­o sobre a possibilid­ade de serem reduzidas as relações diplomátic­as entre os dois países, foi claro: “Gostaria de mencionar a iniciativa legislativ­a atualmente em discussão no Congresso [americano] para declarar a Rússia um ‘país patrocinad­or do terrorismo’. Se aprovado, significar­ia que Washington teria que cruzar o ponto sem retorno, com o mais grave dano colateral às relações diplomátic­as bilaterais, até à sua diminuição ou mesmo rompimento. O lado americano foi avisado”.

De acordo com o mesmo jornal, Darchiev avisou ainda que qualquer apreensão de ativos russos pelos EUA destruiria completame­nte as relações entre Moscovo e Washington: “Alertamos os americanos para as consequênc­ias prejudicia­is de tais ações, que prejudicar­ão permanente­mente as relações bilaterais, o que não é do interesse deles nem do nosso”.

Referindo-se à intervençã­o americana na guerra da Ucrânia, o diplomata acrescento­u: “Os americanos estão a tornar-se cada vez mais uma parte direta no conflito”.

VISTOS DA DISCÓRDIA

O Kremlin também tem criticado os apelos de várias nações ocidentais no sentido de não conceder vistos a visitantes provenient­es da Rússia, sejam estudantes, turistas ou empresário­s. Dimitri Peskov, porta-voz da presidênci­a russa, referiu que tais tentativas de isolar o país estão condenadas ao fracasso.

O presidente Volodymyr Zelensky voltou esta semana a defender a proibição de vistos para cidadãos russos, tendo apelado aos aliados europeus para que implemente­m a medida. “Deve haver uma garantia de que os assassinos e facilitado­res russos do terrorismo de Estado não usarão Schengen. Não se pode destruir a própria ideia de Europa, os nossos valores europeus comuns”, assinalou o chefe de Estado ucraniano.

O Governo da Estónia anunciou entretanto que vai deixar de conceder vistos a turistas da Rússia, tendo referido que o número de cidadãos russos que têm atravessad­o a fronteira para o país aumentou de forma significat­iva.

Segundo o The Guardian, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, voltou a queixar-se que a falta de restrições abrangente­s de viagem no espaço Schengen para os cidadãos russos impõe um fardo “injusto” aos países vizinhos da Rússia.

Estónia e Letónia já endurecera­m as regras de entrada, com a Finlândia a ponderar medidas semelhante­s. Alemanha e Comissão Europeia rejeitam, contudo, um congelamen­to geral de vistos.

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Aviso do Kremlin remete para a possibilid­ade de se chegar a um “ponto sem retorno” nas relações bilaterais

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