Rússia acena com rutura diplomática
Moscovo alertou Washington que colocar a Rússia na lista de estados “patrocinadores do terrorismo” pode colapsar relações entre os dois países
DIPLOMACIA Num momento de especial tensão entre os Estados Unidos e a Federação Russa, a remeter para uma retórica de Guerra Fria, Moscovo veio alertar Washington que colocar o país na lista de patrocinadores do terrorismo do Departamento de Estado dos EUA poderá significar “um ponto sem retorno” diplomático e desencadear mesmo o colapso total das relações entre os dois países.
Em entrevista à agência noticiosa russa TASS, citada pelo jornal The Guardian, Alexander Darchiev, diretor do Departamento para a América do Norte do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, questionado sobre a possibilidade de serem reduzidas as relações diplomáticas entre os dois países, foi claro: “Gostaria de mencionar a iniciativa legislativa atualmente em discussão no Congresso [americano] para declarar a Rússia um ‘país patrocinador do terrorismo’. Se aprovado, significaria que Washington teria que cruzar o ponto sem retorno, com o mais grave dano colateral às relações diplomáticas bilaterais, até à sua diminuição ou mesmo rompimento. O lado americano foi avisado”.
De acordo com o mesmo jornal, Darchiev avisou ainda que qualquer apreensão de ativos russos pelos EUA destruiria completamente as relações entre Moscovo e Washington: “Alertamos os americanos para as consequências prejudiciais de tais ações, que prejudicarão permanentemente as relações bilaterais, o que não é do interesse deles nem do nosso”.
Referindo-se à intervenção americana na guerra da Ucrânia, o diplomata acrescentou: “Os americanos estão a tornar-se cada vez mais uma parte direta no conflito”.
VISTOS DA DISCÓRDIA
O Kremlin também tem criticado os apelos de várias nações ocidentais no sentido de não conceder vistos a visitantes provenientes da Rússia, sejam estudantes, turistas ou empresários. Dimitri Peskov, porta-voz da presidência russa, referiu que tais tentativas de isolar o país estão condenadas ao fracasso.
O presidente Volodymyr Zelensky voltou esta semana a defender a proibição de vistos para cidadãos russos, tendo apelado aos aliados europeus para que implementem a medida. “Deve haver uma garantia de que os assassinos e facilitadores russos do terrorismo de Estado não usarão Schengen. Não se pode destruir a própria ideia de Europa, os nossos valores europeus comuns”, assinalou o chefe de Estado ucraniano.
O Governo da Estónia anunciou entretanto que vai deixar de conceder vistos a turistas da Rússia, tendo referido que o número de cidadãos russos que têm atravessado a fronteira para o país aumentou de forma significativa.
Segundo o The Guardian, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, voltou a queixar-se que a falta de restrições abrangentes de viagem no espaço Schengen para os cidadãos russos impõe um fardo “injusto” aos países vizinhos da Rússia.
Estónia e Letónia já endureceram as regras de entrada, com a Finlândia a ponderar medidas semelhantes. Alemanha e Comissão Europeia rejeitam, contudo, um congelamento geral de vistos.