Atacante de Rushdie acusado de tentativa de homicídio
Após uma longa intervenção cirúrgica, o escritor britânico encontra-se ligado a um ventilador. “As notícias não são boas”, reconheceu o seu agente
ATAQUE “O indivíduo responsável pelo ataque de ontem [sexta-feira], Hadi Mattar, foi formalmente acusado de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau”, afirmou o procurador-geral do condado de Chautauqua, Jason Schmidt, em comunicado.
Segundo avançou a agência Reuters, o homem, de 24 anos e residente em Nova Jérsia, foi indiciado pelas acusações desta sexta-feira “e detido sem fiança”.
O autor britânico, esfaqueado até 15 vezes, foi submetido a uma longa intervenção cirúrgica e encontra-se ligado a ventilador. “As notícias não são boas”, reconheceu o agente, revelando que Rushdie pode perder um olho, tem os nervos do braço cortados e o fígado danificado.
O agente do autor de “Os versículos satânicos” explicou, num comunicado divulgado pelo “The New York Times”, o estado em que se encontra o escritor. “O Salman provavelmente perderá um olho, os nervos do braço foram cortados e o fígado foi danificado”, referiu Andrew Wylie, acrescentando que Salman Rushdie não consegue falar.
“O que nós testemunhámos hoje [sexta-feira] foi uma expressão violenta de ódio que nos abalou profundamente”, reagiu, em comunicado, a instituição Chautauqua, que durante o verão organiza tertúlias literárias.
LeVan, que frequenta regularmente estes eventos, afirmou, citado pela agência noticiosa AFP, que o agressor “tentou esfaquear o escritor as vezes que foram possíveis” antes de ser imobilizado, acrescentando estar seguro de que o homem queria matá-lo.
Com a obra “Os versículos satânicos”, Salman Rushdie foi condenado à morte pelo líder religioso do Irão, o ayatollah Khomeini, que em 1989 emitiu uma “fatwa” (decreto da lei islâmica) contra o escritor, distinguido com o prémio Booker. O britânico chegou a viver em paradeiro desconhecido, sob segurança.
AMEAÇA DESVALORIZADA
O Irão ofereceu, então, uma recompensa de três milhões de dólares a qualquer pessoa que assassinasse Rushdie. Com o passar dos anos, as autoridades políticas iranianas distanciaram-se do decreto, mas, em 2012, uma fundação religiosa semioficial subiu a recompensa em meio milhão de dólares. Rushdie desvalorizou a ameaça na altura, dizendo que não havia “nenhuma prova” de que houvesse alguém interessado na recompensa.
O escritor, de 75 anos, tinha visita marcada ao Porto para o dia 17 de setembro para participar num evento na Livraria Lello. * “Bravo a este homem corajoso e consciente do seu dever que atacou o apóstata e vicioso Salman Rushdie”
Emmanuel Macron
Presidente de França
“Durante 33 anos, Salman Rushdie encarnou a liberdade e a luta contra o obscurantismo. O ódio e a barbárie acabaram de atingi-lo, covardemente. A luta dele é a nossa, universal. Hoje, mais do que nunca, estamos ao seu lado”