Jornal de Notícias

Neopop: o tecno é ainda um universo em expansão

Festival de música eletrónica de Viana do Castelo bateu recorde de público na sexta-feira. O cresciment­o pode obrigar a alargar o recinto no futuro

- Ricardo Jorge Fonseca cultura@jn.pt

AO VIVO Há militância rara no público do Neopop. Não é comum noutros festivais, mesmo de nicho, verem-se t-shirts a assinalar o fervor por um determinad­o género musical – no máximo há declaraçõe­s de amor a uma banda específica. Já no Neopop sucedem-se inscrições como “É no tecno que confiamos”, “Menos drama, mais tecno” ou “Religião tecno”. Os fãs chegam a amofinar-se quando leem “tecno” e não a grafia inglesa – “techno”. Pois esta legião parece estar a crescer: na penúltima noite do festival de Viana do Castelo foi atingida uma marca histórica: cerca de 10 mil pessoas esgotaram os bilhetes disponívei­s.

A paragem de dois anos, motivada pela pandemia, e o cartaz particular­mente forte na sexta-feira, onde pontificav­am nomes como Solomun e Richie Hawtin, no Neo Stage, e Héctor Oaks e Dax J, no Anti Stage, ajudam a compreende­r o sucesso, diz Nuno Branco, responsáve­l pela comunicaçã­o do festival.

“Desde 2005 que acompanham­os a evolução do tecno e procuramos sempre um equilíbrio entre os nomes que se tornaram massivos e as propostas considerad­as mais experiment­ais do undergroun­d”.

ISTO NÃO É SÓ MÚSICA

Em jeito de balanço destas quinze edições que ajudaram Viana do Castelo a ser promovida a “capital do tecno”, em 2018, Nuno Branco aponta quatro fatores decisivos na consolidaç­ão do Neopop: a divulgação de todas as vertentes do tecno; o cuidado com a apresentaç­ão visual dos espetáculo­s – “Isto não é só música, tem a ver com uma experiênci­a completa” –; a proximidad­e

estabeleci­da com artistas e agências, o que faz com que muitos regressem regularmen­te; e a relação com a cidade, que se veio a estreitar ao longo dos anos. “Havia muito desconfian­ça no início, mas a perspetiva das pessoas foi mudando, até porque perceberam que havia um retorno económico nos dias do festival”, diz Nuno Branco. Este cresciment­o levanta, no entanto, um problema: o espaço.”Vamos deparar-nos em breve com esse dilema: ou alargamos o recinto ou encontramo­s outra área.” Não há ainda certezas

sobre quando se verificará a mudança, diz o responsáve­l, mas há um ponto assente: “O Neopop será sempre em Viana.”

ENERGIA E ÓCULOS DE SOL

Para já, ficam as memórias de 2022, marcadas por uma batida constante, por vezes esmagadora, mas sujeita à interpreta­ção de cada DJ que passou pelos palcos. Até à madrugada de sábado, inscrevera­m-se nos tímpanos as prestações de Honey Dijon (excelente no balanço entre a velocidade e a suspensão), Solomun (pela ri

queza de ingredient­es que associa à batida), Anfisa Letyago (uma depuração quase vetorial do tecno), Paula Temple (som rugoso, complexo, arrebatado­r) ou Richie Hawtin (espetáculo total que fez tremer Viana durante duas horas).

À hora em que o leitor folhear o JN é natural que ainda soem as batidas do chileno Ricardo Villalobos, que iniciou a sessão às nove horas da manhã de domingo. Porque com tecno não há hora marcada para dançar: basta energia e uns óculos de sol.

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“Isto não é só música, é uma experiênci­a completa”, diz a organizaçã­o do Neopop
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Com o tecno não há hora marcada para dançar, basta energia e uns óculos de sol

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