Neopop: o tecno é ainda um universo em expansão
Festival de música eletrónica de Viana do Castelo bateu recorde de público na sexta-feira. O crescimento pode obrigar a alargar o recinto no futuro
AO VIVO Há militância rara no público do Neopop. Não é comum noutros festivais, mesmo de nicho, verem-se t-shirts a assinalar o fervor por um determinado género musical – no máximo há declarações de amor a uma banda específica. Já no Neopop sucedem-se inscrições como “É no tecno que confiamos”, “Menos drama, mais tecno” ou “Religião tecno”. Os fãs chegam a amofinar-se quando leem “tecno” e não a grafia inglesa – “techno”. Pois esta legião parece estar a crescer: na penúltima noite do festival de Viana do Castelo foi atingida uma marca histórica: cerca de 10 mil pessoas esgotaram os bilhetes disponíveis.
A paragem de dois anos, motivada pela pandemia, e o cartaz particularmente forte na sexta-feira, onde pontificavam nomes como Solomun e Richie Hawtin, no Neo Stage, e Héctor Oaks e Dax J, no Anti Stage, ajudam a compreender o sucesso, diz Nuno Branco, responsável pela comunicação do festival.
“Desde 2005 que acompanhamos a evolução do tecno e procuramos sempre um equilíbrio entre os nomes que se tornaram massivos e as propostas consideradas mais experimentais do underground”.
ISTO NÃO É SÓ MÚSICA
Em jeito de balanço destas quinze edições que ajudaram Viana do Castelo a ser promovida a “capital do tecno”, em 2018, Nuno Branco aponta quatro fatores decisivos na consolidação do Neopop: a divulgação de todas as vertentes do tecno; o cuidado com a apresentação visual dos espetáculos – “Isto não é só música, tem a ver com uma experiência completa” –; a proximidade
estabelecida com artistas e agências, o que faz com que muitos regressem regularmente; e a relação com a cidade, que se veio a estreitar ao longo dos anos. “Havia muito desconfiança no início, mas a perspetiva das pessoas foi mudando, até porque perceberam que havia um retorno económico nos dias do festival”, diz Nuno Branco. Este crescimento levanta, no entanto, um problema: o espaço.”Vamos deparar-nos em breve com esse dilema: ou alargamos o recinto ou encontramos outra área.” Não há ainda certezas
sobre quando se verificará a mudança, diz o responsável, mas há um ponto assente: “O Neopop será sempre em Viana.”
ENERGIA E ÓCULOS DE SOL
Para já, ficam as memórias de 2022, marcadas por uma batida constante, por vezes esmagadora, mas sujeita à interpretação de cada DJ que passou pelos palcos. Até à madrugada de sábado, inscreveram-se nos tímpanos as prestações de Honey Dijon (excelente no balanço entre a velocidade e a suspensão), Solomun (pela ri
queza de ingredientes que associa à batida), Anfisa Letyago (uma depuração quase vetorial do tecno), Paula Temple (som rugoso, complexo, arrebatador) ou Richie Hawtin (espetáculo total que fez tremer Viana durante duas horas).
À hora em que o leitor folhear o JN é natural que ainda soem as batidas do chileno Ricardo Villalobos, que iniciou a sessão às nove horas da manhã de domingo. Porque com tecno não há hora marcada para dançar: basta energia e uns óculos de sol.