“Gosto mais da Senhora d’Agonia do que do Natal”
Viana do Castelo prepara regresso da romaria, com devoção redobrada. Casas decoradas, barcos pintados e 30 toneladas de sal tingidas para os tapetes da Procissão ao Mar
ROMARIA Imagens da Senhora d’Agonia, barcos, redes e artefactos de pesca, conchas e búzios, luzes, lenços e réplicas em ponto grande de contas de ouro, decoram por estes dias janelas e varandas das casas da ribeira de Viana do Castelo.
Em vésperas da romaria em honra da padroeira dos pescadores, que arranca depois de amanhã e se prolonga até domingo, e já com a cidade a fervilhar de gente, todos ali se envolvem, de uma forma ou de outra, nos preparativos.
A junta de freguesia (Monserrate) tratou das 30 toneladas de sal, tingido de múltiplas cores (com anilinas), para, na noite de sexta-feira, a população atapetar as ruas e a alameda de acesso ao santuário d’Agonia.
A Senhora passará, no dia seguinte, sobre os tapetes coloridos, aquando da Procissão ao Mar. Dezenas de embarcações saem da barra de Viana, num cortejo de fé, assistido pela multidão a partir de terra. Para esse dia, os homens do mar fazem arranjos e retocam a pintura dos barcos e as mulheres preparam os trajes, que vão ser usado também noutros momentos da festa.
“É UM DIA SAGRADO”
“Estou à espera do abate do meu barco, porque já posso ir para a reforma, mas estou a pintá-lo para ir à Procissão ao Mar. Para mim, o dia 20 de agosto (Dia de Nossa Senhora d’Agonia) é sagrado”, contou, este domingo, o pescador Pedro Chavarria de 61 anos, orgulhoso da pintura azul da sua embarcação “Lua”, que tem na popa afixadas imagens da Senhora de Fátima e da Senhora d’Agonia. “Encalhei o barco de propósito para o poder pintar e ficou bem bonito até”, comentou.
Bonitas já começaram a ficar também as casas da ribeira. “Aqui vive-se muito as festas. Ui Jesus. Para mim, vou-lhe dizer, gosto mais até da Senhora d’Agonia do que do Natal”, comenta Ermelinda, que juntamente com o marido Carlos Xavier, decorou a fachada de casa na Rua Frei Bartolomeu
dos Mártires. Pendurou uma rede de pesca cravejada de flores de papel azuis, e colocou na janela (pela parte de dentro), uma imagem da padroeira, uma réplica da embarcação “Santa Maria Manuela” (muitos pescadores de Viana andaram na pesca do bacalhau), figuras representativas de casais de lavradores e de pescadores, gigantones e cabeçudos, peixes e outros objetos alusivos à pesca.
JOVENS PRESENTES
A vizinha da frente, Conceição Traila, tem preparada uma imagem da Senhora, em cima de um globo de vidro, envolta em luzes, para colocar na varanda. “Simboliza que a Senhora d’Agonia é protetora do mundo dos pescadores. A ideia foi minha e o meu marido (António) fez”, descreveu.
Uma “romaria dentro da romaria” é a tradicional noite da confeção dos tapetes, iniciada em 1968, naquela rua e nas vizinhas. João Chavarria, que participa desde 1975 e coordena a operação, louva a adesão este ano de jovens de uma associação cultural (Aisca), na ajuda às “mais 250 pessoas”, que vão passar a noite em claro para atapetar o chão que a Senhora há de pisar.