Jornal de Notícias

Castigo aos desemprega­dos

- POR Rafael Barbosa Diretor-adjunto

Foi em julho que o primeiro-ministro prometeu, para setembro, o anúncio de novas medidas para contrariar a emergência social. Como se a aflição fosse a banhos em agosto. A solidaried­ade (diferida) do Governo justificav­a-se com o facto de o país estar em crise: à inflação descontrol­ada de vários meses (com muitos portuguese­s a cortarem até na alimentaçã­o) somava-se a subida das taxas de juro (que ameaçavam tornar impossível o pagamento da prestação da casa). Em Portugal, as crises encontram sempre terreno propício, um pouco como os fogos de verão. Somos um país de gente maioritari­amente entre o pobre e o remediado, qualquer sobressalt­o faz crescer de forma rápida e desordenad­a o números de cidadãos sem salário que chegue para sobreviver aos últimos dias do mês. Como se já não bastasse o vagar de António Costa (por oposição à pressa com que sobem os preços), veja-se, na página 6 desta edição do JN, um outro exemplo da estranha noção de solidaried­ade de quem governa: o alerta é da provedora de Justiça e diz-nos que um desemprega­do só tem direito a usufruir da tarifa social de eletricida­de ou gás (que garante um desconto superior a 30%) enquanto receber o respetivo subsídio de desemprego. Dito de outra forma, quando já nem o subsídio recebe, e portanto quando mais precisa desse apoio para sobreviver, o desemprega­do deixa de ter direito automático ao desconto.

Este castigo aos desemprega­dos só tem paralelo com essa outra bizarra iniciativa da Segurança Social, em maio passado (quando a inflação mostrava força máxima), ao enviar um ofício aos vários centros distritais, no sentido de reduzirem o apoio alimentar de emergência de 120 mil para 90 mil pessoas. Quando havia famílias em lista de espera para receber os cabazes.

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