Querido mês de emigrantes
O “Meu querido mês de agosto” de Miguel Gomes demonstra, sob ficção, a chegada dos emigrantes portugueses às suas terras, para as festas e romarias nas aldeias. Em carros grandes, musica alta e falando francês, regressam às suas “maisons”. Um filme intenso, de encontros e desencontros em tempo de férias. Dino Meira canta na sua canção “Meu querido mês de agosto”: “por ti levo o ano inteiro a sonhar, trago sorrisos no rosto, meu querido mês de agosto, porque sei que vou voltar”. Investiam tudo em Portugal, sonhando na reforma voltar.
Foi assim que a nossa paisagem se desenhou ao longo das décadas, num mix de arquitetura portuguesa, com francesa, suíça e até americana. Desde o fim do século XIX, com as casas dos brasileiros, aos anos 70/80 com os chalés franceses e suíços, as paisagens representavam as ondas dos destinos dos nossos emigrantes.
Hoje, de avião, com mobilidades improváveis, diluídas ou repartidas durante do ano, regressam à aldeia depois da praia no Algarve. A nova geração já é de lá e quer ficar nesses lugares, outrora escolhidos apenas para os pais trabalharem quase 24/24 horas, no desejo permanente do regresso. Hoje verifica-se outro fenómeno. Não uma paisagem física, mas social e económica que se transforma. Num país sem mão de obra, assiste-se a uma emigração qualificada jovem com enormes repercussões negativas para o futuro. Torna-se urgente inverter esta tendência. Precisamos que os descendentes sintam a vontade do regresso ao país de origem. Precisamos de todos aqui. Dos que foram e dos que não foram. Dos que nasceram cá e lá. Boas férias para os nossos queridos emigrantes.