Jornal de Notícias

Uma rentrée à Direita

- Domingos de Andrade POR Diretor-Geral Editorial

A rentrée que marcou a oposição à direita do PS foi a ida de Pedro Passos Coelho ao Pontal. Não fica a memória de uma medida, ou sequer de uma declaração mais forte da Oposição. Não por não terem existido, porque as houve. E a questão que se coloca é qual terá sido a intenção, ou as intenções, do ex-primeiro-ministro?

Pedro Passos Coelho fez o que nunca havia feito com Rui Rio, que disputou quatro eleições, entre autárquica­s, europeias e duas legislativ­as. A não presença foi a assunção de uma divergênci­a estratégic­a com o ex-líder do PSD. Ao ter agora rumado ao Algarve, caucionou e abençoou a nova liderança. No sentido, aliás, dos apelos à unidade que percorrera­m o congresso do PSD em julho. Essa é a razão óbvia. A escolha do momento, que correspond­e ao início da liderança de Luís Montenegro, sem nenhum ato eleitoral no horizonte, serve, em primeiro lugar, para dissipar eventuais dúvidas sobre as suas motivações, que não serão as de ofuscar a afirmação do novo líder (é uma presença “excecional”, disse). Mas é sobretudo a forma que o ex-primeiro-ministro teve de evitar ser responsabi­lizado por falta de comparênci­a em caso de eventual insucesso. A conclusão, óbvia, assenta em duas reações. Luís Montenegro está num caminho de afirmação para vir a ser primeiro-ministro e tem, pela lei das coisas, quatro longos anos pela frente para mostrar o que vale, primeiro enquanto líder da Oposição. Já Pedro Passos Coelho é uma certeza na política portuguesa. E é, definitiva­mente, a figura mais superlativ­a, mais mobilizado­ra, mais agregadora do espaço à direita do PS. Vale para além da marca do próprio partido, como se viu pela clara reação da opinião pública e comentada.

Como se isto não fosse suficiente, Marcelo Rebelo de Sousa deu previament­e uma entrevista televisiva em que passou uma parte do tempo a explicar o quadro de relações com o centro-direita, a sua família política de origem, desde que ocupa o cargo em Belém, marcando terreno no novo posicionam­ento dos sociais-democratas.

De Pedro Passos Coelho, para já, não se deve esperar muito mais do que essa ambição singela de estar quando sente que é necessário e está de acordo. Ele não faz de conta.

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