Crimes rodoviários sobem e superam valores pré-pandemia
Nos primeiros seis meses do ano foram registadas quase 20 mil infrações. Condução sob efeito de álcool contribui para aumento
ESTRADAS O número de crimes rodoviários chegou aos 19 679 nos primeiros seis meses de 2022, um valor que representa um aumento face ao mesmo período dos dois primeiros anos da pandemia (2020 e 2021) e supera também o primeiro semestre de 2019. A situação é explanada nos dados da PSP e da GNR, que avançam que a condução sob o efeito de álcool (taxa de alcoolemia igual ou superior a 1,2 g/l) é uma das principais infrações de âmbito criminal cometida pelos condutores.
A PSP regista “um aumento significativo dos crimes de condução sob o efeito do álcool e uma acentuada diminuição nos crimes de condução sem habilitação legal, relativamente aos anos anteriores”. Nos primeiros seis meses de 2022, 4688 condutores foram apanhados alcoolizados. É mais de 90% de crescimento face a 2021 e mais de 12% relativamente a 2019.
Apesar de uma rápida associação às menores restrições relacionadas com a pandemia e ao consequente regresso de vários tipos de eventos, a psicóloga Ana Nunes da Silva afirma que “ainda não há dados que permitam concluir que o aumento do consumo está relacionado com o desconfinamento”, mas aponta que é necessário entender o que leva uma pessoa que consumiu álcool a conduzir.
Os dados revelados pelas duas autoridades são de janeiro a junho de cada ano, não sendo ainda possível medir o impacto deste tipo de sinistralidade durante a época de verão de 2022, com as festas populares, os festivais e o período de férias a marcar o calendário.
AFETAR CAPACIDADE DE REAÇÃO
“Quem bebe socialmente e bebe pouco, como um copo de vinho ao almoço ou duas cervejas, pode sobrestimar a capacidade para conduzir”, explica a também professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. “O que se sabe é que não é preciso muito para afetar a capacidade de reação”, revela ao JN.
De acordo com a PSP, os números do crime por condução sob o efeito de álcool ultrapassaram, no primeiro semestre de 2022, os valores do mesmo período de 2019 (4152). Em 2020 e 2021, este tipo de crime reduziu para praticamente metade. Já a GNR aponta que “o tipo de crime mais recorrente é a condução de veículo sob o efeito de álcool e a condução de veículo sem habilitação legal”. Os distritos de Aveiro, Porto, Faro e Setúbal são os que têm mais infratores.
Outra das explicações para a evolução do número de crimes rodoviários prende-se com a maior ou menor proatividade das autoridades, uma vez que a maioria das infrações só é conhecida se houver fiscalizações no terreno. Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa, diz ser “preciso cruzar os dados com os índices de fiscalização”, acrescentando que é “preocupante” a subida dos crimes rodoviários.
O último relatório da sinistralidade a 24 horas da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária aponta que, entre janeiro e abril de 2022, a taxa de infração (número total de infrações/total de veículos fiscalizados) situou-se nos 0,79%, o que representa “19,4% abaixo da taxa de 0,98% registada no ano anterior”. A condução sob o efeito de álcool merece “uma abordagem holística”, diz Alan Areal: deve começar nas escolas e terminar em campanhas de sensibilização de condutores.