Zelensky lança aviso sobre bases russas
Presidente aconselhou ucranianos a afastarem-se das áreas militares na Crimeia e territórios ocupados no Sul, o que sugere novos ataques
CRIMEIA Após a sucessão de ataques na península anexada da Crimeia, ao longo da última semana, nunca reivindicados oficialmente por Kiev – ainda que altos oficiais ucranianos o tenham feito –, o presidente Volodymyr Zelensky deixou ontem um aviso, revestido do tom enigmático que tem marcado as afirmações do chefe de Estado sobre as explosões no território ocupado pela Rússia desde 2014: “Não se aproximem dos objetos militares do exército russo”.
Na habitual comunicação diária, disse o chefe de Estado ucraniano que os russos perceberam que a Crimeia “não é um lugar para eles”, referindo-se a longas filas de veículos que atravessam nesta altura a ponte da península que faz ligação à Rússia, o que, no seu entender, mostra que uma “absoluta maioria” de cidadãos russos percebeu a mensagem. Escreve o jornal “The Guardian” que pelo menos 38 000 viaturas atravessaram a ponte na terça-feira.
A fuga massiva registou-se depois das explosões desta terça-feira, que atingiram um depósito de munições e uma subestação elétrica nas proximidades da cidade de Dzhankoi, um importante centro ferroviário, para além de um outro aparente ataque ucraniano fora da capital regional da Crimeia, Simferopol, onde uma base russa foi destruída.
Alertou o presidente que ataques similares podem ocorrer, o que vem justificar o apelo lançado aos ucranianos para que se mantenham longe de bases logísticas e postos de comando das forças invasoras.
Segundo o mesmo jornal, o Ministério da Defesa do
Reino Unido referiu, na sua última atualização, que os líderes militares russos estarão “cada vez mais preocupados” com a sucessão de revesses na península da Crimeia, tendo o Ministério da Defesa russo prometido lidar com o que chamou de “sabotagem” local.
De acordo com o líder regional da Crimeia, Sergey Aksyonov, seis alegados extremistas islâmicos foram ontem detidos, não sendo claro, segundo o mesmo jornal, se as detenções estão relacionadas com os recentes ataques na península.
A CORAGEM DE PAVEL
Num exercício raro de coragem entre aqueles que integram as fileiras de combate nas forças de Moscovo, um soldado russo manifestou uma posição pública contra a invasão da Ucrânia. “Eu não vejo justiça nesta guerra. Eu não vejo verdade aqui”, disse Pavel Filatyev, em declarações ao “The Guardian”.
O militar deixou a Rússia no início desta semana, depois de publicar um documento com 141 páginas onde figura uma descrição diária detalhada do seu tempo no terreno como parte de uma unidade de paraquedistas.
Pavel Filatyev foi retirado do teatro de guerra depois de ficar ferido e contrair uma infeção ocular. Foi então que decidiu expor tudo a que assistiu no centro de uma invasão que conheceu por dentro.
“Estávamos sentados sob fogo de artilharia em Mykolaiv. Naquele momento eu já pensava que estávamos ali a fazer porcaria. Para que raio precisamos desta guerra? E eu tive este pensamento: Deus, se eu sobreviver, farei tudo o que puder para impedir isto”, contou Pavel.