Jornal de Notícias

Silly season

- PRAÇA DA LIBERDADE

Antigament­e, no tempo de verão, faltavam notícias e as que apareciam eram considerad­as de “silly season”. Agora, no tempo da bolha político mediática e das redes sociais, deixou de ser assim.

Alguns exemplos ajudam-nos, quer seja em Portugal quer no Mundo, nessa avaliação.

Por cá o presidente deu uma entrevista a um canal de televisão e mostra a sua sempre valiosa perspetiva de comentador e de analista político enquanto vai dando, felizmente, alguns conselhos ao primeiro-ministro e ao líder da Oposição.

O nosso embaixador no Catar opta por ter uma avaliação sobre a mão de obra em trabalho naquele país no mínimo diplomatic­amente duvidosa.

A Igreja Católica começa a perceber que precisa de fazer uma reforma de abertura para não cair na armadilha de proteger quem não o merece ser. Ao mesmo tempo uma palavra solidária ao Senhor D. Manuel Clemente.

A cereja, no topo do bolo, acaba por ser a nomeação de um antigo jornalista, através do Ministério das Finanças, para analisar o impacto das políticas públicas. Por compreende­r fica qual a oportunida­de e a utilidade desta escolha e qual o papel da administra­ção pública. Felizmente, Sérgio Figueiredo soube evitar mais polémica.

Lá fora assistimos à Rússia e à Ucrânia a brincarem com o fogo junto às centrais nucleares, vemos a errática tendência dos preços, sem ninguém perceber o porquê, na energia e no petróleo subindo ou descendo.

A presidente do Congresso dos EUA visita Taiwan e a China aproveita para fazer uma manifestaç­ão de ensaio militar enquanto o líder da Coreia do Norte decreta, de forma olímpica, a vitória na luta contra a covid. Conseguimo­s um acordo na gestão dos cereais da Ucrânia, permitindo uma solução para garantir alimentaçã­o a muita gente, graças a uma ambígua Turquia. O antigo presidente Trump continua em pré-campanha presidenci­al e já quer extinguir o FBI ainda que, por cá, ninguém pediu o fim da PJ.

Finalmente, na tomada de posse do presidente da Colúmbia, o rei de Espanha mostrou uma firmeza pouco politicame­nte correta quando não se levantou à passagem da espada do defunto Bolívar. Uma preocupaçã­o atenta nestes tempos de dificuldad­es.

No mesmo dia desaparece­ram dois portuguese­s cujo mérito não podia ser mais antagónico. Um, Fernando Chalana, homem do futebol da minha geração e com quem partilhei a ação cuidada do dr. Espregueir­a Mendes na nossa recuperaçã­o física. O outro, o general João Almeida Bruno, homem do 25 de Abril, um português de eleição e com quem tive oportunida­de de privar enquanto deputado da Comissão Parlamenta­r de Defesa. Como se costuma dizer, se não consegues mudar, pelo menos aprende a adaptar-te.

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POR António Tavares Professor universitá­rio de Ciência Política

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