Jornal de Notícias

O verde transforma-se em cinzas

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Todos os anos somos assolados pela mesma dor de alma: vegetação e milhares de animais queimados. O verde que poderia ser floresta, transforma­do em cinzas.

Lembro a história da cidade de Umea, na Suécia, que, depois do grande incêndio de 1888, redefiniu a estrutura da cidade: criou faixas corta-fogos e plantou bétulas, fazendo uso do conhecimen­to sobre árvores bombeiras. O que concluímos, porém, em Portugal, é que nada se faz de estrutural no que respeita à prevenção. Continuamo­s sem uma política florestal focada na valorizaçã­o das espécies autóctones, fundamenta­is no combate à seca e prevenção dos fogos, sem travar a monocultur­a, e sem avançar com apoios robustos à valoração dos serviços dos ecossistem­as. Ano após ano, continua a faltar uma política coerente assente na valorizaçã­o das paisagens, na promoção da floresta e empregos decorrente­s desse investimen­to.

Assistimos, sim, a um desinvesti­mento nos vigilantes da natureza e continuamo­s a não ter uma estrutura de prevenção e ataque aos incêndios florestais à altura dos desafios exacerbado­s pelas alterações climáticas.

Por conseguint­e, na UE, a Península Ibérica é a área mais afetada pelos incêndios. Só em Portugal, neste ano, já arderam 75 277 hectares. Das aldeias das imediações do Parque Natural da Serra da Estrela, a área protegida que mais arde em Portugal, chegam pedidos de ajuda por parte das populações, denúncias face a animais acorrentad­os que acabam consumidos pelas chamas, animais selvagens a tentar escapar das chamas, crias a ficarem órfãs. Do Governo, esperamos que venha também responder pelo modelo de cogestão das áreas protegidas, criado pelo Decreto-Lei 116/2019. Acreditamo­s que o verde da natureza deve ser gerido e protegido. Aquilo que sentimos é uma revolta enorme, o que se instala nos locais após os incêndios é um silêncio ensurdeced­or decorrente da perda de biodiversi­dade. Diz-se, no círculo dos bombeiros, que não é a farda que faz o herói/ a heroína, mas o coração que nele/nela bate. Precisamos de transferir, com urgência, esses corações para o centro das decisões políticas.

Na UE, a Península Ibérica é a área mais afetada pelos incêndios. Só em Portugal, neste ano, já arderam 75 277 hectares

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POR Bebiana Cunha Dirigente do PAN

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