Recupere-se a velha praia do “Afoga-Cães”

Lembro-me de na minha infância e adolescência as praias da Foz, no Porto, estarem pejadas de barracas e de muitos banheiros. Naquela altura, anos 60, ainda alugava uns calções de banho por cinco escudos num banheiro que ficava na praia do Ourigo. Recordo alguns nomes desses magníficos homens e mulheres das praias da Foz: Magalhães, António Valente e Emília Barbosa. Desde a praia das Pastoras, passando pela das “Bruxas”, até à do Ourigo, dos Ingleses, da Luz, “Afoga-Cães”, Gondarém, Molhe, Homem do Leme, Aquário e Castelo do Queijo, eram comuns as centenas de barracas de aluguer, de várias cores e feitios. Nesses tempos, as férias no Algarve eram só para algumas famílias. As pessoas da cidade e dos arredores deslocavam-se nos transportes públicos e outras, as da província, vinham nas camionetas, com a merenda e liteiros próprios para passar um domingo soalheiro nas praias portuenses.

Por essa altura, também se alugavam casas perto do mar às famílias que vinham de férias, sobretudo do Interior norte, mas também emigrantes.

A Foz era o “Algarve dos pobres” e daí o aluguer quinzenal ou mensal das barracas e o papel vigilante dos banheiros, que também ensinavam a nadar.

Mais tarde, anos 80 e 90, surgem as esplanadas de praia e acabam os tradicionais banheiros. As praias são entregues aos novos concessionários – os donos das esplanadas. Aqui, surge o interesse comercial do negócio mais selvagem. Com obras de “partir rochas a dinamite”, passando pelas estruturas em cimento e restaurantes com vistas privilegiadas para o mar, as esplanadas tomaram definitivamente o lugar dos velhos banheiros, mantendo em certos casos algumas barracas de aluguer em funcionamento. Com as obras nas esplanadas e o rebentar de rocha, o entulho acumulado foi colocado na praia do Norte, entre a da Luz e a de Gondarém. Essa “pedreira” desfez a antiga praia do Magalhães, também conhecida como praia do “Afoga-Cães”. Hoje zona de rochedos e de abrigo nos dias de forte nortada, a praia da Pedreira está ali ao abandono. É tempo de limpar e reaproveitar esse espaço de praia, encravado entre as esplanadas da Luz e de Gondarém, e assim servir as gentes da Foz e da cidade.

raulspinto@gmail.com