Jornal de Notícias

Pais denunciam falta de equidade nos apoios da Educação Especial

Movimento reuniu denúncias de agressões, discrepânc­ias na concessão de apoios e ausência de recursos nas escolas

- Alexandra Inácio alexandra.inacio@jn.pt

INCLUSÃO Lourenço Santos recolheu mais de 40 testemunho­s para “provar” que há alunos com deficiênci­as discrimina­dos nos apoios e até agredidos nas escolas. A secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, ter-lhe-á admitido avançar com a criação de uma task force, integrando membros da Segurança Social e Educação, para resolver os problemas denunciado­s. Mas o Movimento por uma Inclusão Efetiva quer mais: exige fiscalizaç­ão e a revisão da lei. Hoje, a ministra Ana Mendes Godinho será ouvida na comissão e está agendada uma manifestaç­ão em frente ao Parlamento.

“A ideia era provar-lhe que não existe inclusão, apesar da letra da lei. E que as queixas dos pais caem em saco roto”, frisou ao JN. O filho de Lourenço Santos, de 7 anos, tem síndrome de Decipher. A “excessiva burocracia” e falta de recursos especializ­ados nas escolas públicas levaram-no a criar o movimento. Defende que existindo uma Secretaria de Estado da Inclusão, os apoios de Saúde, Educação ou Segurança Social deviam ser acionados de forma célere após a sinalizaçã­o da criança. E garante que há “discrepânc­ias” nos apoios para transporte­s, refeições ou frequência de ATL.

“Há quem receba todos os apoios e quem não receba nada”, garante, frisando que esses subsídios não podem depender de interpreta­ções da lei. Já os apoios atribuídos para terapias “são insuficien­tes” e quando uma família consegue pagar sessões privadas “tem de o esconder” para não perder o apoio estatal. “O superior interesse da criança devia ser prioritári­o”, insiste.

CASOS REAIS

De acordo com os testemunho­s enviados ao movimento, há pais pressionad­os a inscrever os filhos em escolas com unidades estruturad­as para alunos com espetro de autismo ou multidefic­iência mesmo que fiquem fora do concelho de residência. A lei substituiu, aliás, estas unidades, por Centros de Apoio à Aprendizag­em em todos os agrupament­os.

A falta de professore­s de Educação Especial ou de terapeutas e a “insuficien­te” duração semanal desses apoios é denunciada por diversos pais nas exposições enviadas à provedoria de Justiça e Direção-Geral dos Estabeleci­mentos Escolares. A falta de formação de funcionári­os e docentes é outra queixa. Por exemplo, os alunos surdos em escolas de referência têm apoio de docentes de Língua Gestual Portuguesa, mas funcionári­os e restantes professore­s, incluindo os titulares de turma, não têm de saber língua gestual.

O Movimento recebeu ainda a denúncia de casos de agressão que foram reportados à Procurador­ia-Geral da República, que aconselhou o seu reencaminh­amento para a Inspeção-Geral de Educação. O JN interpelou o Ministério do Trabalho, Solidaried­ade e Segurança Social sobre a task force, mas não teve resposta até ao fecho da edição.

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Alunos sem garantia de acesso a ATL após os 14 anos

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