Volante do táxi seduz cada vez mais mulheres
No Porto já há quase três dezenas de motoristas. Assumem paixão pela profissão e dizem que há menos discriminação
CONDUÇÃO Chegam aos táxis arrastadas pela família. A ideia era experimentar um ou dois fins de semana, mas nunca mais conseguiram deixar. “É um vício”, afirmam em uníssono. A adrenalina, as pessoas e o gosto pelo volante é o que as motiva a continuar dia após dia. São mulheres e são cada vez mais numa profissão tradicionalmente associada aos homens. No Porto são já quase três dezenas as taxistas.
Unidas pela paixão à condução e às ruas do Porto, vão ultrapassando a discriminação e preenchendo os dias na profissão que as faz felizes. “Sei que saio de casa, mas nunca sei onde vou terminar o meu dia, a emoção que trabalhar nos táxis provoca é fascinante”, revela Idalina Sousa, que já está no setor há oito anos. Também Natália Maria, que trabalhou anos a fio num centro comercial e se sentia cansada da rotina, soma elogios: “Passar do shopping para as ruas do Porto foi um abrir de horizontes. O táxi permite-nos fazer muito mais”.
“Dizemos que estamos fartas e que vamos deixar, mas até nas férias sentimos a falta disto”, conta, por sua vez, Maria Magalhães, taxista há 30 anos.
TURISMO FUNDAMENTAL
Atualmente, o turismo é fundamental para o sucesso da atividade. “Já fiz de guia muitas vezes, os autocarros turísticos não passam em certas ruas estreitas, tal como o Passeio das Virtudes e nós, de carro, levamos lá os turistas”, indica Natália. Idalina confirma que “apostar no centro da cidade é a chave”, pois é ali que se concentram os turistas.
Agostinha Soares, que trabalha em zonas menos urbanas, assume existirem muitas diferenças. “Na cidade, os taxistas estão na postura e lidam com quem chega. Pelo contrário, nós já sabemos quem são os clientes e funcionamos principalmente por agenda”.
Discriminação? Há cada vez menos. Todas concordam que quando os clientes entram e veem uma mulher ao volante ainda há alguma surpresa e admiração. “Acho que o tabu já foi ultrapassado, mas quando é uma cliente é ainda melhor, sentem-se mais confortáveis”, exprime Idalina.
“Já tive alguns episódios em que os passageiros abusavam, mandavam alguns piropos ou tiravam-me os óculos de sol, mas sempre que isso acontecia eu expulsava-os do carro”, assume Agostinha.
“No entanto, temos uma relação muito boa com os nossos colegas, ajudam-nos no que precisamos e nas horas mortas temos boas conversas”, acrescenta a motorista.
Paula Silva, condutora de táxi há oito anos, acredita que “já se começa a ver isto como uma profissão para todos”. “As mentalidades são diferentes. Sinto que o profissionalismo não depende do género, mas da pessoa em si”, sentencia.
MUDAR ESTÁ FORA DE QUESTÃO
“Quando comecei tinha 18 anos e a discriminação era maior, se ia pedir ajuda a alguns colegas mais velhos diziam-me para ir para casa lavar a loiça e cuidar dos filhos”, recorda Maria Magalhães. “Hoje em dia também há mais segurança, os táxis estão ligados à Polícia e temos um botão dentro do carro que aciona um alarme”, observa.
Para estas profissionais, trocar de ramo está fora de questão. Dizem que se fosse necessário encontrar outro emprego, também teria de envolver o volante, a estrada e o público. E ainda acrescentam: “Mulheres aqui? Continuem, arrasem, venham mais”.