Jornal de Notícias

Mais vale feito que perfeito

- POR Manuel Serrão Empresário

Há quem pense que quem acha que mais vale feito que perfeito peca por falta de ambição. Devo dizer que as pessoas que possuem um sentido mais prático da vida, nas quais eu orgulhosam­ente me incluo, ao longo da sua carreira profission­al e pessoal vão percebendo que esta é uma máxima perfeitame­nte razoável.

Dou graças a Deus por não ser um perfeccion­ista. Conheço algumas pessoas que “sofrem” desta “doença” e tenho constatado que são muito menos felizes do que eu. Dito isto, há que acrescenta­r que a perfeição, quer no plano pessoal quer no profission­al, é um objetivo completame­nte meritório. Desde que não se torne numa obsessão.

Sobretudo para quem trabalha numa área como a organizaçã­o de eventos. Sem nunca descurar a ambição de que eles sejam organizado­s e decorram da melhor forma possível para a satisfação generaliza­da de participan­tes e clientes, a verdade absoluta é que mais vale que se consigam fazer, mesmo que não sejam perfeitos.

Este raciocínio também deve ser aplicável a todas as pessoas mais velhas quando resolvem analisar ou criticar o comportame­nto das gerações mais novas. Infelizmen­te para algumas pessoas que conheço, perfeito, perfeito era que os seus filhos ou netos fossem capazes de gostar do que eles gostaram, fazer o que eles fizeram e de um modo geral de terem perante a vida uma atitude igual à que eles tiveram.

Termino com um exemplo concreto do que acabo de dizer. Há 40 anos, o normal num rapaz ou rapariga era ansiar pelos 18 anos para poder tirar a carta de condução. Mesmo que para a maioria, como foi o meu caso, tirar a carta de condução não significas­se ter um carro para conduzir. Só a existência dessa possibilid­ade já era uma enorme alegria. Lá está, ter a carta mas não ter carro, seguia a velha máxima mais vale feito que perfeito. Acontece que nos dias de hoje, para espanto (ou até desgosto) de alguns pais, os jovens dessa idade na sua maioria não mostram nenhuma preocupaçã­o ou ansiedade por conseguire­m a carta de condução. Não vejo porque é que esta diferente atitude das novas gerações há de preocupar os seus progenitor­es. Se calhar, até percebo que estes jovens estejam à espera da invenção do carro automático, que não precisa de ser conduzido. Porque enquanto precisarem das duas mãos para conduzir, como é que conseguem estar ao telemóvel?

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal