Jornal de Notícias

Advogado assumiu 555 multas porque prescrição era certa

Tribunal julga arguido que deu o seu nome para reclamar de contraorde­nações de trânsito dos clientes

- João Pedro Campos justica@jn.pt

Um advogado acusado de falsificaç­ão pelo Ministério Público, por ter 555 multas por excesso de velocidade em seu nome, afirmou ontem, no Tribunal de Coimbra, que o fazia para tornar o processo de contestaçã­o dos autos mais célere, uma vez que havia dificuldad­e das empresas que representa­va em identifica­r os condutores.

Segundo Jorge Coutinho, todos os autos eram aplicados a pessoas coletivas, em situações em que as viaturas não tinham sido mandadas parar, e havia dificuldad­es na identifica­ção dos condutores. “Nós contactáva­mos as empresas, que demoravam a fazer a identifica­ção, e só tínhamos 15 dias para contestar a multa. Então coloquei o meu nome”, justificou, dizendo que sabia que o processo iria prescrever ou ser anulado. “Eu sei que errei e atualmente não o faço, mas não beneficiou nem prejudicou ninguém”, defendeu.

Segundo o advogado, o seu escritório em Coimbra recebia 200 a 300 processos do

género por mês, pelo que tinha de ser ágil.

AS “INEFICIÊNC­IAS” DA ANSR

“O arguido introduziu o seu nome porque não tinha um ou dois clientes, tinha centenas. Tinha de identifica­r o condutor e, como muitas vezes tinha dificuldad­es em consegui-lo junto das empresas, colocava o seu nome. Sabia que [reclamando] não ia ser condenado, como nunca foi”, alegou Rui Silva Leal, advogado de Coutinho da Costa. As coimas prescrevem em dois anos. Ouvida pelo Tribunal, a diretora da área das Contraorde­nações da Autoridade Nacional de Segurança

Rodoviária (ANSR), Anabela Silva, declarou que a falta de recursos desta entidade não tem permitido dar continuida­de a todos os processos. “Há muitas prescriçõe­s por ineficiênc­ia de recursos e porque as contestaçõ­es levam a que sejam necessária­s apreciaçõe­s, o que leva a que os prazos se prolonguem e ultrapasse­m os dois anos”, declarou.

Coutinho da Costa está acusado de 555 crimes de falsificaç­ão, um por cada coima por excesso de velocidade que assumiu entre 2016 e 2019. Algumas foram passadas no mesmo dia e à mesma hora, outras têm diferenças de minutos.

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O advogado (à esq.) e um cliente, que foi testemunha

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