Jornal de Notícias

A nova ética da governação

- POR António Tavares Professor universitá­rio de Ciência Política

Os últimos dias estão a evidenciar uma pressão inaudita sobre um conjunto de governante­s que devem levar o primeiro-ministro a pensar na sanidade política do Governo.

Enquanto não se encontram outros instrument­os jurídicos para se poder atuar, deve-se fazer um esforço para precisar o que são as condições políticas, o que é a responsabi­lidade política, no fundo aferir a necessidad­e de uma nova ética da governação.

Aceitando como Kant defendia o princípio “comporta-te do modo que queiras que os outros se comportem”.

Podemos encontrar aqui uma linha de orientação que pode permitir inferir se o governante tem condições políticas para exercer o cargo. De certa forma se tem capacidade de ser respeitado na função, concretiza­r a autoridade que emana do cargo, assumir o prestígio da sua função e receber o reconhecim­ento necessário para tal.

A responsabi­lidade política obriga-o a ter uma leitura extensiva do que é o exercício de um cargo público como a ideia de uma missão ao serviço da coisa pública.

Muita da turbulênci­a que temos estado a viver poderia evitar-se se não existisse a tentativa de um controlo partidário da administra­ção pública, mas antes uma administra­ção de carreira com nomeações assentes num perfil técnico de competênci­as seria mais útil e independen­te ao país. Insisto com a necessidad­e de deixar claro a distinção de quais são os lugares de nomeação e de confiança política e os lugares de provimento técnico.

Ao mesmo tempo a necessidad­e de clarificaç­ão da relação do poder judicial com as portas giratórias, evitando assim o contágio e a inércia de muitos setores.

Finalmente, algo em que todos sabem que existe mas evitam falar. A remuneraçã­o dos cargos políticos e dos mais altos cargos da administra­ção. Os últimos tempos mostram à saciedade que são imensos os ministros que ganham menos do que os seus subordinad­os. Com efeito, o quadro remunerató­rio não é atrativo para fixar os melhores da nossa sociedade que, facilmente, conseguem melhores salários noutras áreas da atividade privada.

Precisamos de um sistema eleitoral que dê uma efetiva liberdade aos deputados e os aproxime, reduzindo o tamanho dos círculos eleitorais, tornando a sua relação mais próxima da comunidade.

Seriam pequenas reformas que poderiam ajudar Portugal a sair deste desgaste diário que estamos a viver. Para isso, seria necessário que o PS e o PSD não tivessem medo de fazer essas reformas.

Infelizmen­te, estão a deixar o Chega ter o papel de ser o arauto dessa necessidad­e.

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