Governo criticado por atirar decisão para os diretores
Responsáveis não conhecem ainda as regras de aquisição de portáteis e esperam por reavaliação das provas digitais
A menos de três meses do primeiro dia dos exames do 9.º ano, que contam 30% para a avaliação final, diretores e encarregados de educação manifestam apreensão pelo facto das provas serem realizadas em formato digital. A atribuição de uma verba de 6,5 milhões de euros para comprar portáteis, aprovada pelo Conselho de Ministros na quinta-feira e divulgada ontem pelo JN, levanta dúvidas se as verbas chegarão a tempo às escolas, como serão os procedimentos concursais e se existem computadores suficientes no mercado. Ontem, as escolas ainda desconheciam as regras de aquisição dos equipamentos para substituir os “milhares” avariados.
“Isto é atirar para cima dos ombros dos diretores uma responsabilidade imensa”, acusa Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). “Querem que resolvamos em poucos dias, o que a Tutela não conseguiu resolver em meses ou em anos”, denuncia. Perante a falta de tempo e à existência de “dezenas de milhares de computadores avariados nas escolas”, duvida que se consiga adquirir todos os equipamentos necessários até aos exames.
NOVO GOVERNO VAI DECIDIR
Filinto Lima sublinha que a atribuição de verbas para a compra de computadores, de modo a que os alunos possam realizar os exames do 9. º ano e as provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos seria bem-vinda há uns meses, mas, agora, não é a melhor altura. “Não nos pressionem para realizarmos as provas em formato digital”, afirma. “Nós, diretores, não somos mágicos. Não é com uma varinha de condão que vamos fazer aparecer dinheiro. A forma como as provas vão realizar-se, este ano, será a primeira grande decisão do futuro ministro ou ministra da Educação”.
Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE), está preocupado com os exames do 9.º ano, porque equivalem a 30% da avaliação final. “Se os alunos não estiverem em condições para os fazerem, podem ser prejudicados”, adverte. A sua apreensão prende-se com o facto dos jovens terem competências para utilizarem telemóveis e tablets, mas o mesmo não se verifica no caso dos computadores, o que poderá afetar o seu desempenho. O problema vai sentir-se ainda no caso das crianças mais novas, pois têm menos competências informáticas.
REPARAÇÃO FORA DE HORAS
Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), partilha da mesma opinião. “No dia da prova, é fácil os alunos terem computadores, até porque podem fazer a avaliação por turnos, mas alguns não tiveram todas as disciplinas e outros usam os computadores uma vez por mês. Que competências têm?”, frisa.
Embora também aponte para “muitas dezenas de milhares de computadores a necessitarem de substituição”, Manuel Pereira garante que a situação só não é mais grave, porque “muitos têm sido reparados por professores de informática, por outros professores e por funcionários, fora das horas de trabalho. “Há mais de dois anos que reclamamos por técnicos informáticos”, confirma Filinto Lima. “O trabalho do professor de TIC é dar aulas. Há professores habilidosos que ajudam a reparar os portáteis, mas não podemos viver disso”
A Fenprof mantém o pré-aviso de greve, a partir de 8 de abril, para que os docentes de Informática não tenham de resolver avarias durante as provas.
“A escola é o espaço onde se estuda a democracia. Se não houver equidade, não estamos a fazer um bom trabalho”
“Existe muita iliteracia informática entre as crianças e os jovens, com a falácia de que todos os sabem utilizar”