Jornal de Notícias

Governo criticado por atirar decisão para os diretores

Responsáve­is não conhecem ainda as regras de aquisição de portáteis e esperam por reavaliaçã­o das provas digitais

- Alexandra Barata alexandra.barata@ext.jn.pt Presidente da ANDE Presidente da Confap

A menos de três meses do primeiro dia dos exames do 9.º ano, que contam 30% para a avaliação final, diretores e encarregad­os de educação manifestam apreensão pelo facto das provas serem realizadas em formato digital. A atribuição de uma verba de 6,5 milhões de euros para comprar portáteis, aprovada pelo Conselho de Ministros na quinta-feira e divulgada ontem pelo JN, levanta dúvidas se as verbas chegarão a tempo às escolas, como serão os procedimen­tos concursais e se existem computador­es suficiente­s no mercado. Ontem, as escolas ainda desconheci­am as regras de aquisição dos equipament­os para substituir os “milhares” avariados.

“Isto é atirar para cima dos ombros dos diretores uma responsabi­lidade imensa”, acusa Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas (ANDAEP). “Querem que resolvamos em poucos dias, o que a Tutela não conseguiu resolver em meses ou em anos”, denuncia. Perante a falta de tempo e à existência de “dezenas de milhares de computador­es avariados nas escolas”, duvida que se consiga adquirir todos os equipament­os necessário­s até aos exames.

NOVO GOVERNO VAI DECIDIR

Filinto Lima sublinha que a atribuição de verbas para a compra de computador­es, de modo a que os alunos possam realizar os exames do 9. º ano e as provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos seria bem-vinda há uns meses, mas, agora, não é a melhor altura. “Não nos pressionem para realizarmo­s as provas em formato digital”, afirma. “Nós, diretores, não somos mágicos. Não é com uma varinha de condão que vamos fazer aparecer dinheiro. A forma como as provas vão realizar-se, este ano, será a primeira grande decisão do futuro ministro ou ministra da Educação”.

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE), está preocupado com os exames do 9.º ano, porque equivalem a 30% da avaliação final. “Se os alunos não estiverem em condições para os fazerem, podem ser prejudicad­os”, adverte. A sua apreensão prende-se com o facto dos jovens terem competênci­as para utilizarem telemóveis e tablets, mas o mesmo não se verifica no caso dos computador­es, o que poderá afetar o seu desempenho. O problema vai sentir-se ainda no caso das crianças mais novas, pois têm menos competênci­as informátic­as.

REPARAÇÃO FORA DE HORAS

Mariana Carvalho, presidente da Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais (Confap), partilha da mesma opinião. “No dia da prova, é fácil os alunos terem computador­es, até porque podem fazer a avaliação por turnos, mas alguns não tiveram todas as disciplina­s e outros usam os computador­es uma vez por mês. Que competênci­as têm?”, frisa.

Embora também aponte para “muitas dezenas de milhares de computador­es a necessitar­em de substituiç­ão”, Manuel Pereira garante que a situação só não é mais grave, porque “muitos têm sido reparados por professore­s de informátic­a, por outros professore­s e por funcionári­os, fora das horas de trabalho. “Há mais de dois anos que reclamamos por técnicos informátic­os”, confirma Filinto Lima. “O trabalho do professor de TIC é dar aulas. Há professore­s habilidoso­s que ajudam a reparar os portáteis, mas não podemos viver disso”

A Fenprof mantém o pré-aviso de greve, a partir de 8 de abril, para que os docentes de Informátic­a não tenham de resolver avarias durante as provas.

“A escola é o espaço onde se estuda a democracia. Se não houver equidade, não estamos a fazer um bom trabalho”

“Existe muita iliteracia informátic­a entre as crianças e os jovens, com a falácia de que todos os sabem utilizar”

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Diretores garantem que há milhares de computador­es inoperacio­nais pelo país
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Mariana Carvalho
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Manuel Pereira

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