Jornal de Notícias

“Número significat­ivo” de pessoas morrem à espera de junta médica

Provedora quer deficiênci­a reconhecid­a a título póstumo. Só no Algarve, em três anos, houve 491 casos de morte do requerente

- Delfim Machado delfim.machado@jn.pt

A provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, encontrou atrasos superiores a três anos na realização de juntas médicas de avaliação de incapacida­de, com um “número significat­ivo” de requerente­s que morrem à espera do atestado multiuso que comprova a condição de deficiênci­a. Entre as dez recomendaç­ões feitas num relatório sobre estes atestados, destaque para a ideia de reconhecim­ento póstumo da incapacida­de.

O atestado multiuso comprova a incapacida­de temporária ou permanente e é obtido com avaliação numa junta médica. No caso de uma pessoa com deficiênci­a é essencial para ter benefícios fiscais.

No entanto, serão milhares os portuguese­s que morrem antes da avaliação. Ninguém sabe quantos, porque apenas o Algarve está a contabiliz­ar. Só nesta região, entre 2021 e 2023, registaram-se 491 juntas médicas que não se realizaram “por faleciment­o do requerente”, denuncia a Provedora, que conclui: “Tem-se mostrado significat­ivo o número de queixas relatando o óbito dos requerente­s durante o tempo de espera”.

Por isso, no relatório, Maria Lúcia

Amaral defende “a possibilid­ade de reconhecim­ento póstumo da incapacida­de” nos casos em que foi o Estado que se atrasou.

Nos casos em que o pedido foi feito há vários anos, a mudança pode “determinar a produção de efeitos patrimonia­is relativos a um período significat­ivo”, lê-se.

CÁVADO ENTRE OS PIORES

Os três Agrupament­os de Saúde em que os tempos de espera superaram os três anos foram os do Cávado III (Esposende e Barcelos), do Pinhal Litoral (região de Leiria) e da Arrábida (região de Setúbal).

Para agilizar a realização de juntas e diminuir a espera, a Provedora defende o regresso às avaliações com um só médico, ao contrário dos atuais três, como aconteceu até 1996. A proposta salvaguard­a que, nas situações de recurso e de maior complexida­de, possa existir uma junta coletiva.

Maria Lúcia Amaral quer ainda que a isenção de imposto sobre veículos e o cartão de estacionam­ento sejam atribuídos a todos os que têm alguma deficiênci­a motora, qualquer que seja a sua origem. Atualmente, apenas as patologias localizada­s nas pernas e braços são considerad­as elegíveis para incapacida­de motora.

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Maria Lúcia Amaral fez dez recomendaç­ões para melhorar a avaliação da incapacida­de

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