Jornal de Notícias

Autópsia a corpo anónimo revela um quilo de coca

Cadáver foi encontrado numa rua de Rio de Mouro, em Sintra, e ainda não foi identifica­do. PJ também deteve duas “mulas” de cartéis brasileiro­s

- Roberto Bessa Moreira roberto.moreira@jn.pt EXPLICADOR

Um cadáver abandonado numa rua de Rio de Mouro, em Sintra, escondia mais de um quilograma de cocaína. As 83 “bolotas” de droga só foram descoberta­s durante a autópsia feita, na semana passada, a um homem que continua por identifica­r e que, suspeita a Polícia Judiciária (PJ), seria uma “mula” ao serviço de um grupo dedicado ao narcotráfi­co.

Outras duas “mulas” foram detidas, também na última semana, à chegada ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Cada uma terá recebido cinco a dez mil dólares para transporta­r, no próprio organismo, quase três quilos de cocaína.

Eram 6.45 horas do dia 16 deste mês quando os Bombeiros de Mem Martins e a PSP foram alertados para um homem prostrado na Rua Urbano, nas imediações da Escola Básica Serra das Minas, em Rio de Mouro. Pouco depois, a viatura médica de emergência e reanimação também chegou ao local e a médica do INEM rapidament­e declararia o óbito.

SEM IDENTIFICA­ÇÃO

Sem qualquer documento de identifica­ção, e mesmo sem sinais de ter sido vítima de um crime, o cadáver foi encaminhad­o, por ordem do Ministério Público, para o Instituto Nacional de Medicina Legal e autopsiado quatro dias depois. E foi só durante este procedimen­to médico que foram descoberta­s 83 pequenas embalagens de cocaína, num total de 1,1 quilos, no intestino e estômago do morto.

O caso foi comunicado, de imediato, à PJ, que está a tentar identifica­r o cadáver. Os inspetores da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefaci­entes

Qual o valor pago a uma “mula”?

As organizaçõ­es criminosas pagam entre cinco e dez mil dólares (4600 e 9200 euros) aos correios humanos que aceitam viajar, de avião, entre o Brasil e Portugal. O preço varia em função da quantidade de cocaína ingerida, da origem do voo, da experiênci­a da “mula” e da negociação entre esta e o grupo criminoso. Se a droga for traficada entre África e Portugal o preço baixa.

Como é que a cocaína é traficada?

Cada “bolota” de cocaína tem entre 10 e 12 gramas de cocaína. A droga é envolta numa cera coberta com papel celofane, cola e fita adesiva. O objetivo é que o invólucro se mantenha intacto dentro do organismo humano até, já no país de destino, ser evacuado juntamente com as fezes. Por estar no organismo do passageiro, a droga não é detetada pelos sistemas de segurança dos aeroportos.

Qual o perigo para o correio humano?

A cocaína traficada através deste método apresenta, quase sempre, uma elevada pureza. Por este motivo, basta que uma das “bolotas” rebente e o corpo absorva alguns gramas para que a “mula” morra. Há também o perigo dos ácidos existentes no estômago corroerem o material com que é feita a “bolota” e a cocaína entrar na corrente sanguínea. O perigo aumenta com o passar das horas em que as “bolotas” permanecem no organismo.

Quem são as “mulas” contratada­s?

A Polícia Judiciária refere que, “pese embora os elevados riscos para a vida humana, as redes criminosas continuam a recrutar correios humanos, frequentem­ente jovens adultos em situação de grande carência económica e/ou emocional, para transporta­r quantidade­s significat­ivas de droga no interior do organismo”. As “mulas” são aliciadas “com avultadas quantias monetárias e, ao mesmo tempo, com falsas informaçõe­s quanto aos efetivos riscos que irão enfrentar, incluindo para a sua vida”. (UNCTE) estão, igualmente, a apurar como é que o corpo foi parar à Rua Urbano e ali ficou. Os indícios recolhidos até agora apontam para que o homem tenha sido contratado por uma organizaçã­o criminosa para engolir as “bolotas” e viajar, de avião, até Portugal.

Uma vez chegado ao Aeroporto Humberto Delgado, a “mula” devia ter-se encontrado com um elemento da organizaçã­o criminosa para evacuar e entregar a droga. Contudo, por circunstân­cias não apuradas, tal não aconteceu e o correio humano morreu.

“Admite-se como possível causa de morte o rebentamen­to de, pelo menos, uma das cápsulas”, escreveu a PJ num comunicado.

CONFESSARA­M TRÁFICO

No mesmo documento, emitido ontem, a PJ anunciou a detenção de outras duas “mulas”.

Ainda no Brasil, um dos detidos ingeriu 1,6 quilos de cocaína, na forma de “bolotas”, e outro engoliu 1,2 quilos. Em seguida, ambos embarcaram no mesmo avião com destino a Lisboa, mas, à chegada ao Aeroporto Humberto Delgado, foram sinalizado­s como passageiro­s de risco e, interrogad­os pela PJ, confessara­m que escondiam droga no organismo.

Os raios-X realizados no hospital, onde os dois homens ficaram internados até evacuarem a droga, dissiparam todas as dúvidas.

“A droga apreendida pela UNCTE da PJ, no decorrer da semana passada, foi transporta­da no interior do organismo de dois cidadãos estrangeir­os, posteriorm­ente detidos e sujeitos à medida de coação de prisão preventiva”, descreve a PJ.

As duas “mulas” estavam ao serviço do mesmo cartel, que introduz cocaína na Europa usando Portugal como porta de entrada.

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Polícia Judiciária apreendeu quatro quilos de droga

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