Jornal de Notícias

Abstenção dos EUA na ONU gera crise diplomátic­a com Israel

Pela primeira vez, o Conselho de Segurança aprova resolução que pede cessar-fogo em Gaza. Telavive cancela visita a Washington e Casa Branca diz estar “desapontad­a” com decisão

- Ana Isabel Moura ana.moura@jn.pt

Ao fim de quase seis meses de guerra na Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança da ONU adotou ontem uma resolução que pede um cessar-fogo imediato no enclave durante o Ramadão, exigindo ainda a libertação de todos os reféns e a garantia de acesso a ajuda humanitári­a. O texto, que teve 14 votos a favor e uma abstenção dos EUA, adensa a tensão entre Washington e Telavive, que rapidament­e decidiu cancelar a viagem de uma delegação israelita ao país aliado.

Apesar de os EUA terem justificad­o a abstenção com o facto de o pedido para adicionar uma condenação ao Hamas ter sido negado, Israel cumpriu a promessa de cancelar a deslocação de uma delegação ao país, que tinha o objetivo de discutir alternativ­as à operação terrestre em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza. “Não vetaram o novo texto que pedia um cessar-fogo sem a condição de libertar os reféns. Este é um claro recuo da sua posição consistent­e no Conselho de Segurança desde o início da guerra”, referiu o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, num comunicado divulgado minutos após a votação.

A mesma nota salienta que a abstenção “prejudica tanto os esforços de guerra quanto os esforços para libertar os reféns, porque dá ao Hamas a esperança de que a pressão internacio­nal lhe permitirá aceitar um cessar-fogo sem ter que soltar” os prisioneir­os.

Depois do cancelamen­to da viagem, o conselheir­o de segurança da Casa Branca, John Kirby, disse que a instituiçã­o está “perplexa” e “muito desapontad­a” com a decisão tomada pelo Governo hebraico, descartand­o assim, a oportunida­de dos dois lados discutirem “alternativ­as viáveis” à incursão israelita no Sul do território palestinia­no, onde, atualmente, está mais de um milhão de civis.

Ainda assim, o porta-voz do Departamen­to de Estado, Matthew Miller, mostrou-se confiante de que os EUA podem encontrar “outras formas” de alertar Israel para os perigos de uma operação em larga escala numa região com graves fragilidad­es humanas. A esperança de que haja uma melhoria nas relações diplomátic­as reside agora num encontro que irá acontecer hoje no Pentágono e vai juntar o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, e o seu homólogo norte-americano, Lloyd Austin.

O Hamas, por sua vez, saudou a resolução e disse estar pronto para “uma troca imediata” de prisioneir­os com Israel, aumentando as expectativ­as de um avanço nas negociaçõe­s em curso em Doha, onde chefes de inteligênc­ia e outras autoridade­s dos EUA, Egito e Catar estão a tentar intermedia­r um acordo.

“ENTERRAR OS MÁRTIRES”

Num comunicado nas redes sociais, o movimento islâmico ressalvou a necessidad­e de ser firmada uma pausa nos confrontos que permita “enterrar os mártires que permanecem sob os escombros há vários meses” e para que a população carenciada tenha acesso a “necessidad­es humanitári­as básicas”. Também a Autoridade Palestinia­na congratulo­u a votação de ontem, já que todas as resoluções que pediam um cessar-fogo em Gaza tinham sido, até agora, vetadas na ONU.

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Embaixador­a dos EUA na ONU levantou o braço para se abster de votar na resolução

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