As novas dinâmicas da literatura “made in Portugal”
Editoras e livrarias reconhecem que a procura pelos autores nacionais por parte dos leitores é cada vez maior. Dia do Livro Português é assinalado hoje
Nos primeiros dois meses e meio de 2024, a editora Saída de Emergência publicou mais livros de autores portugueses do que na totalidade do ano passado.
A profusão de títulos é mais do que mera coincidência. A editora dirigida e fundada por Luís Corte Real, especializada em títulos ligados aos universos da fantasia, do fantástico e da ficção científica, elegeu o corrente ano como o da inflexão da sua estratégia, apostando de forma declarada na criação nacional.
Nasceu, assim, o selo “Eu amo autores portugueses”. “Sentíamos que acabávamos por publicar livros de autores estrangeiros que muitas vezes ficavam aquém da qualidade dos nossos”, adianta Cláudia Araújo Teixeira, coordenadora de comunicação.
Além de continuarem a publicar nomes que já faziam parte do seu catálogo, como António Costa Neves e Maria João Martins, a Saída de Emergência estendeu a aposta a autores que não só “têm qualidade de escrita”
como cultivam géneros “que muitas vezes as editoras desconsideram, como a fantasia e história alternativa”. Os resultados têm sido surpreendentemente positivos: publicados já este ano, os romances “A lei dos corações perdidos”, de Mariana Faria, e “Quando o Vaticano caiu”, de Pedro Catalão Moura, já estão na segunda edição.
O maior peso atribuído à literatura escrita por autores nacionais não se confina à editora que publica os títulos de George R. R. Martin. Na Almedina, grupo editorial e livreiro sediado em Coimbra, as apostas levam em linha de conta essa realidade. “Tanto na área da edição como da distribuição, procuramos dar resposta ao aumento da procura por autores nacionais”, reconhece Rita Pinto, CEO do grupo, que atribui esse crescimento “à qualidade das obras e à capacidade que toda uma nova geração de escritores tem para dar resposta às inquietações contemporâneas”.
Uma fatia desse dinamismo, acredita a líder da Almedina, também se deve a fatores conjunturais, de que são exemplos “a presença dos autores nas redes sociais ou o crescimento exponencial de comunidades literárias”, entre outros.
OFERTA MAIS AMPLA
Se da parte das editoras tem havido um esforço em aumentar a oferta de propostas literárias portuguesas, nas livrarias também é bem visível essa aposta.
A FNAC estima em 5% o crescimento anual do segmento de autores nacionais nos últimos anos. Mas, ainda mais sintomático do que esse aumento de procura, é o leque de géneros representados.
A diversidade de géneros literários é outro fator que tem impulsionado a procura por autores portugueses. “Atualmente, já não encontramos apenas romances ditos tradicionais, na linha de Lobo Antunes, Lídia Jorge ou José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe ou literatura histórica. A literatura portuguesa abraçou os policiais, a literatura romântica, a fantasia e os romances para jovens adultos, atraindo novos leitores com gostos muito variados”, sustenta Lúcia Felizardo, chefe da Divisão de Livros da multinacional francesa, que aponta ainda outro responsável pelo crescimento: a identificação. “Os leitores sentem-se naturalmente atraídos por histórias e personagens que refletem a sua cultura e quotidiano. A literatura portuguesa oferece essa conexão única”.