Jornal de Notícias

As novas dinâmicas da literatura “made in Portugal”

Editoras e livrarias reconhecem que a procura pelos autores nacionais por parte dos leitores é cada vez maior. Dia do Livro Português é assinalado hoje

- Sérgio Almeida sergio@jn.pt

Nos primeiros dois meses e meio de 2024, a editora Saída de Emergência publicou mais livros de autores portuguese­s do que na totalidade do ano passado.

A profusão de títulos é mais do que mera coincidênc­ia. A editora dirigida e fundada por Luís Corte Real, especializ­ada em títulos ligados aos universos da fantasia, do fantástico e da ficção científica, elegeu o corrente ano como o da inflexão da sua estratégia, apostando de forma declarada na criação nacional.

Nasceu, assim, o selo “Eu amo autores portuguese­s”. “Sentíamos que acabávamos por publicar livros de autores estrangeir­os que muitas vezes ficavam aquém da qualidade dos nossos”, adianta Cláudia Araújo Teixeira, coordenado­ra de comunicaçã­o.

Além de continuare­m a publicar nomes que já faziam parte do seu catálogo, como António Costa Neves e Maria João Martins, a Saída de Emergência estendeu a aposta a autores que não só “têm qualidade de escrita”

como cultivam géneros “que muitas vezes as editoras desconside­ram, como a fantasia e história alternativ­a”. Os resultados têm sido surpreende­ntemente positivos: publicados já este ano, os romances “A lei dos corações perdidos”, de Mariana Faria, e “Quando o Vaticano caiu”, de Pedro Catalão Moura, já estão na segunda edição.

O maior peso atribuído à literatura escrita por autores nacionais não se confina à editora que publica os títulos de George R. R. Martin. Na Almedina, grupo editorial e livreiro sediado em Coimbra, as apostas levam em linha de conta essa realidade. “Tanto na área da edição como da distribuiç­ão, procuramos dar resposta ao aumento da procura por autores nacionais”, reconhece Rita Pinto, CEO do grupo, que atribui esse cresciment­o “à qualidade das obras e à capacidade que toda uma nova geração de escritores tem para dar resposta às inquietaçõ­es contemporâ­neas”.

Uma fatia desse dinamismo, acredita a líder da Almedina, também se deve a fatores conjuntura­is, de que são exemplos “a presença dos autores nas redes sociais ou o cresciment­o exponencia­l de comunidade­s literárias”, entre outros.

OFERTA MAIS AMPLA

Se da parte das editoras tem havido um esforço em aumentar a oferta de propostas literárias portuguesa­s, nas livrarias também é bem visível essa aposta.

A FNAC estima em 5% o cresciment­o anual do segmento de autores nacionais nos últimos anos. Mas, ainda mais sintomátic­o do que esse aumento de procura, é o leque de géneros representa­dos.

A diversidad­e de géneros literários é outro fator que tem impulsiona­do a procura por autores portuguese­s. “Atualmente, já não encontramo­s apenas romances ditos tradiciona­is, na linha de Lobo Antunes, Lídia Jorge ou José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe ou literatura histórica. A literatura portuguesa abraçou os policiais, a literatura romântica, a fantasia e os romances para jovens adultos, atraindo novos leitores com gostos muito variados”, sustenta Lúcia Felizardo, chefe da Divisão de Livros da multinacio­nal francesa, que aponta ainda outro responsáve­l pelo cresciment­o: a identifica­ção. “Os leitores sentem-se naturalmen­te atraídos por histórias e personagen­s que refletem a sua cultura e quotidiano. A literatura portuguesa oferece essa conexão única”.

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José Rodrigues dos Santos numa sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa

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