Jornal de Notícias

Toque francês no meio do espaço

“Moon safari”, dos Air, redefiniu caminhos para a música eletrónica há 25 anos

- Por Ricardo Jorge Fonseca Jornalista

Etérea, sensual, chique e sonhadora. Assomou assim ao Mundo a música dos Air, duo francês formado por um arquiteto de inclinação indie, Nicolas Godin, e um estudante de astrofísic­a com pendor clássico, Jean-Benoît Dunckel. Erguiam-se na ressaca do grunge e da britpop e considerav­am que o rock era algo exterior à cultura francesa – “Temos mais perfil para ser chefs ou designers de moda”. Estrearam-se em 1998 com um álbum que não poderia ter sido escrito depois do 11 de setembro de 2001, admitiram anos mais tarde. Um otimismo que se perdeu, mas que pode ser consultado na reedição que celebra os 25 anos de “Moon safari”.

Escudado por singles como “Sexy boy”, “All I need” e “Kelly watch the stars” (dedicado à mais bela mulher do Mundo, na visão dos Air: a atriz Kelly Garrett, uma das “Charlie’s Angels” originais), o disco surge num ponto de intersecçã­o da música e da vida cultural francesa. Pedia-se algo mais “suave” depois dos anos que testemunha­ram talvez a última grande regurgitaç­ão do rock, e os sinais já vinham na desacelera­ção de tempo de uns Portishead ou Massive Attack. E à sua volta surgia o “french touch” na música eletrónica, com a explosão de clubes e o surgimento de números como Daft Punk ou Etienne de Crecy.

Retrofutur­ista. Palavra vadia que ganhou inteira propriedad­e com “Moon safari”, gesto de imaginação e descoberta sustentado na memória de Debussy, Burt Bacharach ou Serge Gainsbourg (e parte do álbum dos Air é uma releitura de “Histoire de Melody Nelson”), com uso de teclados vintage em detrimento da parafernál­ia recente; músicos inteiros num contexto de produtores.

Suspensos há mais de dez anos, depois de criarem a banda sonora para o filme mudo de Méliès “Le voyage dans la lune”, a presente reedição, que inclui faixas inéditas, remisturas e o documentár­io “Eating, sleeping, waiting & playing” (1998), de Mike Mills, poderá significar um regresso à atividade dos heróis do “downtempo”: a longa digressão de 2024 passará por Cascais, a 9 de julho, no festival CoolJazz.

“Moon Safari – 25th Anniversar­y edition” (2CD + Blu-ray)

AIR PARLOPHONE/WARNER

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Banda vai atuar a 9 de julho na 20.ª edição do CoolJazz

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