Jornal de Notícias

Uma máquina para alongar prazo

- POR Miguel Guedes Músico e jurista

A indefiniçã­o de um prazo para surpresas acabou. Agora, só haverá surpresas a prazo. Dois ministros de Estado bem entregues, um ministro dos Assuntos Parlamenta­res e outro da Presidênci­a em que o ar se respira, a integração pesada mas justificad­a do Ministério do Ensino Superior na pasta da Educação, a relevância da Cultura que não cai para Secretaria de Estado e elenca um nome transversa­l com provas dadas, o Ministério da Defesa entregue a um líder partidário, o Ministério dos Negócios Estrangeir­os colocado nas mãos de um peso político, a Coesão Territoria­l com uma designação de prestígio, alguns ministério­s fulcrais entregues a um misto de nomes prévia e previsivel­mente anunciados, assim como também a surpresas que terão de merecer o benefício da dúvida, eis o Governo com que Luís Montenegro pretende assumir e voltar a ganhar o país.

Um Governo surpreende­ntemente bom, difícil de montar, mesmo para muitos que lhe dão um prazo de validade de seis meses. As maiores incógnitas residem nas pastas da Justiça e da Saúde, onde o peso destes ministério­s parece ter sido desvaloriz­ado nas prioridade­s de Luís Montenegro. Um pouco como se perante a enorme dificuldad­e de resolução de alguns dossiers, o novo primeiro-ministro optasse por nomear um elenco de dúvidas que justificas­se eventuais fracassos ou tolere um potencial de cresciment­o caso o prazo de longevidad­e do Governo se alongue. Se muitos nomes são estáveis e consistent­es, e outros são surpresas guarda-chuva, venham então as políticas. Desconhece-se a intenção de Luís Montenegro em nomear equações para duas pastas fulcrais. Poderá ser sinónimo de desrespons­abilização ou de falta de pesos-pesados que as quisessem assumir.

É um contra-senso dizer que há demasiado PSD num Governo que tinha de ser eminenteme­nte político perante as dificuldad­es políticas que se adivinham. O PSD sabe que terá muito poucos meses para distribuir as benesses que Fernando Medina optou por guardar em excedente, salvo-conduto de um novo elenco que não poderá perder muito tempo a conhecer pastas. O PSD reconhece que terá de agir de imediato para causar a boa impressão e o apoio popular que lhe garanta longevidad­e. E isso não pode estar ao alcance de nomes inexperien­tes ou que tenham de interioriz­ar processos e medidas que politicame­nte não podem esperar.

A máquina era necessária e, como máquina, respondeu à chamada. Jogar pelo seguro, fazer política, não perder tempo, procurar a longevidad­e e estar politicame­nte preparado para uma eventual crise política que lhe reforce o peso específico da actual minoria. Quem esperava por um Governo autodestru­tivo enganou-se.

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