Jornal de Notícias

Quase 60% das receitas da Santa Casa vêm da raspadinha

Só em 2022 os portuguese­s gastaram 1714 milhões de euros na lotaria instantâne­a. Placard registou o pior resultado desde 2016, Euromilhõe­s e Totobola também renderam menos

- Abílio T. Ribeiro abilio.ribeiro@jn.pt

APOSTAS Os portuguese­s gastaram 1714 milhões de euros em raspadinha­s em 2022, o que representa mais de metade do total das vendas brutas dos Jogos Santa Casa. Já o Placard perdeu terreno e registou o pior resultado desde 2016. Ficaram por reclamar 9,3 milhões de euros em prémios, mais do que no ano anterior.

Há cada vez mais adeptos de raspadinha­s e os números refletem essa tendência. Os gastos com as lotarias instantâne­as representa­m mais de 56% das vendas brutas dos Jogos Santa Casa. Em 2022, os portuguese­s gastaram 1714 milhões de euros neste jogo, segundo o relatório e contas dos jogos da Santa Casa, só agora publicado. O número está próximo do resultado alcançado em 2019, antes do início da pandemia (1718 milhões de euros). Mais: todos os restantes jogos (apostas mútuas e lotaria nacional) renderam 2204 milhões de euros – apenas mais 490 milhões do que o faturado com as raspadinha­s.

MAIS POBRES JOGAM MAIS

Ao mesmo tempo, este número também reflete as preocupaçõ­es da provedora da Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa (SCML), que reconheceu o facto de haver muitas pessoas em Portugal com problemas de dependênci­a da raspadinha. Ana Jorge admitiu inclusivam­ente que o problema atinge as pessoas mais apoiadas pela instituiçã­o.

No ano passado, o estudo “Quem paga a raspadinha?”, elaborado pela Universida­de do Minho (UM) para o Conselho Económico e Social (CES), concluiu que o consumo frequente de raspadinha­s é três vezes mais comum nas pessoas de baixos rendimento­s. O estudo identifico­u ainda 30 mil pessoas com vício “patológico” de raspadinha em Portugal.

Quanto às restantes receitas da Santa Casa, o Euromilhõe­s e o M1lhão continuam a ser os segundos jogos favoritos dos portuguese­s (646 milhões). Contudo, em ambos as apostas sofreram uma quebra de 42 milhões de euros (6,2%) face a 2021. E não são os únicos a perder terreno. O Totobola rendeu menos 20,1% de receitas e o Placard menos 0,8%. O jogo de apostas desportiva­s à cota registou o pior resultado desde 2016. O cresciment­o da oferta deste tipo de apostas online poderá explicar a quebra.

9,3 MILHÕES POR RECLAMAR

O valor de prémios caducados também aumentou em relação a 2021, passando de 8,4 milhões para 9,3 milhões. O prazo para reclamar os prémios superiores a 150 euros é de 90 dias. Já se o valor for inferior, podem ser pagos por qualquer mediador. Em 2020, o valor que não entrou no bolso dos apostadore­s ficou-se pelos 9,5 milhões de euros. Ao JN, a Santa Casa adiantou que, no ano passado, ficaram por entregar 266 982 prémios do Euromilhõe­s; em 2022 foram 742 271.

De acordo com o relatório, os jogos sociais da Santa Casa distribuír­am prémios de 1,9 mil milhões de euros em 2022, aproximand­o-se mais uma vez do valor registado antes do início da pandemia (2 mil milhões em 2019). A raspadinha é o jogo onde são atribuídos mais prémios (mais de mil milhões de euros). Já o Euromilhõe­s continua a ser o jogo que atribui mais prémios superiores a um milhão de euros. Só em 2022 foram 119 milhões. As raspadinha­s atribuíram um.

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